quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

EFEMÉRIDE DO “MAIS NOBRE MONUMENTO INGLÊS DE PROSA

A versão da Bíblia em Inglês, conhecida por King James Bible (Versão do Rei Tiago) – 1566-1625, ou Versão Autorizada (Oficial), também conhecida pelo “mais nobre monumento de prosa Inglesa”, permanece, através dos quatro séculos agora comemorados, como o mais importante clássico tanto da religião como da literatura inglesas.

Profundamente religioso e, como bom Escocês da época, católico como a mãe, a fatídica Rainha Mary, vítima de Isabel I, ao suceder-lhe, em 1567, ficou conhecido por Tiago VI. Só depois da morte de Isabel I, de Inglaterra, a última baluarte da poderosa dinastia Tudor, a quem se deve a dissensão da Igreja Católica e a fundação da Igreja Anglicana, que desde então tem o/a Monarca Inglês(a) como Chefe, conhecida e poderosa inimiga da família de Tiago, este sucede-lhe, surpreendentemente de uma forma pacífica. Quando a história era pródiga em conflitos e guerras entre as duas nações, James une as duas coroas, como Tiago I, dando, assim, lugar à dinastia jacobina. Reunido e chefiando o seu clero no Palácio de Hampton, no sul de Londres, que a justificar a sua supremacia real de divinamente eleito se sentava num púlpito superior, com o supremo clero a seus pés, foi ali que no seu ensaio “Basilikon Doron”, instilou ao filho mais novo e seu sucessor, o igualmente fatídico Carlos I, os seus princípios e convicções. Aliás, nesta vetusta Câmara, conhecida por Great Watching Chamber, James I, no início do seu reinado e pressionado pelas remanescentes tensões herdadas de Isabel I, entre Puritanos (Ortodoxos) e Conformistas (bispos anglicanos), os primeiros apresentaram uma petição, quando o Rei se dirigia de Edimburgo para Londres para assumir o Trono, solicitando que pusesses fim à confissão e práticas dos segundos, consideradas por eles inaceitáveis. Presentes em tão solene conclave, os defensores das partes em disputa: os bispos, representados pelo Bispo de Londres, Richard Bancroft e Lancelot Andrewes e, os Puritanos, pelo seu dirigente máximo, John Rainolds, que perante a premissa dos oposicionistas,“Sem bispos não há Rei”!, enfrentou difícil tarefa. Perante tão promissor, mas acrimonioso debate, o Rei, reputado teólogo, deleitou-se! Durante a acesa contenda, Rainolds também académico eminente, procurando minar a versão bíblica dos Bispos, propôs ao Rei uma nova tradução, visando a versão de Genebra, então prevalecente, favorável aos pontos de vista dos Puritanos. O Rei acedeu concordando que as versões existentes tinham defeitos, particularmente a favorecida pelo proponente que o Rei considerou como a pior de todas! Coube a Richard Bancroft elaborar as regras da tradução, aprovadas pouco depois pelo Monarca. Para o efeito, serviu-se de seis grupos de tradutores baseados em Oxford, Cambridge e Westminster, que imediatamente deram início à tarefa que, um ano depois, partilharia da efeméride que visava a morte do Rei, na Câmara dos Comuns, com a abortada Conspiração do traidor Guy Fawkes, a 5 de Novembro, e, assim, tentar liquidar a monarquia de então. Como os Homens são para os verdadeiros momentos, James I notabilizou-se como extraordinário homem de Estado. Foi neste vasto cenário, que traumatizou o País inteiro, que surgiu a nova versão de uma Bíblia que uniria o dividido país, povo e igreja! Baseada na até então credível versão diretamente do Hebreu, de William Tyndale (1492-1536), terminada no ano da sua morte. De salientar que um dos grupos de tradutores baseou-se na sala da Torre do Colégio de Corpus Christi, em Oxford, local predileto do Presidente de então e iniciador da ideia da nova versão, John Rainolds. Desde o seu lançamento, há quatro séculos, a Bíblia do Rei James, além de inicialmente unir povo e Igreja, ligou, reforçou, igualmente, a língua inglesa, não apenas na metrópole, como no vasto e antigo Império, em cujos países atualmente independentes continua a ser referência, não obstante as várias e novas versões.

A TODOS OS LEITORES E SUAS FAMÍLIAS UM MARAVILHOSO ANO REPLETO DE CONSECUÇÕES E ALEGRIA

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

DAVID CAMERON E A EUROPA

A que, para alguns, foi surpresa a atitude de David Cameron, para aqueles que acompanham de perto – e vivem – a vida, idiossincrasias e problemas britânicos, principalmente aqueles que o fazem quase há 50 anos, não o poderá ter sido!

A atitude assumida pelo primeiro-ministro britânico em Bruxelas, na madrugada de 8 passado, resultou do que ocorreu no passado mês de Novembro na Câmara dos Comuns, aquando da votação da moção imposta pelos eurocéticos do Partido Conservador. Embora com a esperada vitória final de 372 votos (111 a favor da moção e 483 contra), a surpresa, porém, foi a revolta final do número de deputados do seu próprio partido, e, portanto, perigoso desafio à liderança de Cameron, em que 81 colegas votaram a favor da moção e contra a disciplina partidária, e outros 15 abstiveram-se. Fica bem patente que enquanto na crítica fase do governo de John Major, no início dos anos noventa, em que o assunto ameaçava o próprio futuro da liderança Conservadora, e em que o número de rebeldes era apenas 41, a UE continua, e pode agravar, o futuro de um partido, ele próprio, sob a tutela de Edward Heath, que conseguiu a desejada adesão em janeiro de 1972. Perante tamanhas pressões e afim de aparentar – ou demonstrar – que algo estava a fazer e aparentar corresponder às pressões da sua franja eurocética, o dirigente Conservador tentava passar “recados” e pressões sobre a necessidade da estabilidade do euro, nomeadamente a Angela Merkel e Nicholas Sarkozy, que segundo ele, embora o seu país dele não faça parte, mas insistia que a economia do Reino Unido seria afetada, recusando também a participar financeiramente nem no proposto Fundo de Estabilidade do Euro, nem através de fundos do FMI, David Cameron cria, assim, desnecessária guerra, principalmente com a Alemanha, cujo ministro das finanças, Wolfgang Schauble, ironicamente responde que o Reino Unido não terá outra solução que, brevemente, aderir ao euro!

Na madrugada de 8 de dezembro, na cimeira de Bruxelas, rebentou a inesperada bomba: o abandono de David Cameron e do seu país das negociações sobre novas medidas de reforço do euro, o que nunca acontecera antes, mesmo durante a renitente Margaret Thatcher. A pretexto de obter isenções na anunciada cláusula de se taxar os bancos, que segundo o primeiro-ministro britânico prejudicaria a “City” de Londres, cujo rendimento no PIB nacional é entre 7,5 e 10%, com consequências de, igualmente, a possível perda de milhão e meio de postos de trabalho, David Cameron, abandonou as negociações, defendendo na Câmara dos Comuns, no seguinte dia 12, que o fez – e voltaria a fazer no futuro – sempre que “os interesses nacionais o exigissem”. Esta inédita atitude, porém, foi fortemente criticada não só pelos principais órgãos britânicos da comunicação social, e nomeadamente o favorável The Economist, com exceção dos habituais xenófobos, nomeadamente o The Sun, The Daily Mail, The Daily Express e o The Daily Telegraph, que aplaudiram o ato do chefe do governo, como, e muito principalmente, pela oposição Labour, que acusaram o primeiro-ministro de, por razões pessoais de liderança, a fim de aplicar os 96 eurofóbicos do seu partido, ter isolado o país e pôr em risco o seu futuro e aspirações político-comerciais. Outra interrogação, e esta igualmente importante, é o futuro da coligação, em que os Liberal-Democratas, favoráveis à União Europeia, principalmente as figuras de charneira, como o seu ex dirigente e atualmente Lorde Paddy Ashdow, começaram a criticar e a separar-se da decisão dos seus parceiros Conservadores. Neste contexto, foi particularmente notada a invulgar ausência no debate dos Comuns, do dia 12, do vice-primeiro-ministro, Nick Clegg que habitualmente se senta ao lado do primeiro-ministro. As perturbações no seio da coligação, em relação à política anti-europeia dos Conservadores, acentuam-se pelo que o vice-primeiro-ministro insiste em tomar as rédeas do que afirma “regresso às negociações” e ao “seio da União Europeia”. A curiosidade é saber se o vai conseguir, quando o seu colega de chefia do governo foi obviamente muito aplaudido principalmente pelos eurocéticos que desafiaram a sua liderança!

domingo, 11 de dezembro de 2011

AS INEGÁVEIS VANTAGENS DA UNIÃO EUROPEIA

A vivência de quase meio século num país erradamente apelidado de euro-fóbico, mas mais apropriada e tradicionalmente insular, garante-me alguma autoridade para falar sobre este importante tema. Os conhecidos euro-fóbicos, tradicionalmente da extrema direita do partido conservador britânico por não terem um tema político suficientemente importante para se debaterem e serem suficientemente conhecidos na importante opinião pública, insistem na sua romântica insularidade e pequenês, não se preocupando de pôr em causa a segurança política do seu partido, mas, pior, quando governo, como foi o caso do chefiado por John Major, particularmente em 1992, levando o então primeiro-ministro ao desespero, classificando-os de “ filhos da pxxa”. E embora o número tenha aumentado, principalmente graças a uma imprensa favorável. esquecem-se, por exemplo, na insistência daquele grande homem que dizem reverar, chamado Winston Churchill no seu importante e revelador discurso, em Zurique, em 19 de Setembro de 1946, em que propunha uma União Europeia que ligasse para sempre a França e a Alemanha. Além disso, acrescentou que, embora a Grã-Bretanha preferenciasse os laços atlânticos, ou seja, o relacionamento especial por ele criado entre o seu país e os Estados Unidos da América (EUA), o Reino Unido estaria para sempre ligado à Europa. Por ela lutou sacrificando o império, centenas de milhar dos seus filhos, e a própria falência do país pondo em jogo o futuro do seu povo a favor de uma Europa livre.
Foi o espírito de Churchill, que levou outros grandes homens do Continente, testemunhas e vítimas das agruras devastadoras da guerra que, por causa dela e embora por razões económicas, devido às vantagens e escassês do carvão e do aço, a formarem uma aliança, génesis do que, mais tarde, viria a ser Mercado Comum iniciado pelo Tratado de Roma, em 1957. Embora convidado a aderir, mas duvidoso de sucesso, encorajado pela neutralidade de países como a Áustria a Suíça, o governo britânico de então declinou, preferindo, mais tarde, formar outra instituição, de que o nosso país foi membro, a EFTA. Porém, e reconhecendo o seu erro, foi um primeiro-ministro Conservador, Harold McMillan que, em 1963, tentou aderir, mas devido ao ressentido e orgulhoso general de Gaulle, então Presidente da influente França, tal tentativa foi duas vezes frustrada. Mas como não há duas sem três, à terceira, o então primeiro-ministro, Edward Heath, levou, finalmente, o seu país a aderir ao Mercado Comum, em Janeiro de 1973, fazendo do Reino Unido um dos seus principais membros, embora, mais tarde, principalmente aquando do Tratado de Maastrich, o então primeiro-ministro, John Major, sob intensas pressões internas, invocou – e conseguiu – até então inéditas importantes exclusões, que mais tarde o governo de Tony Blair voltaria a invocar em relação à adesão ao euro. E, Portugal? A adesão do nosso país em 1986, embora impreparado, especialmente devido a uma economia deficiente em relação a outros países membros mais desenvolvidos, foi mais uma questão política, invocada e aceite para a consolidação da sua até então débil democracia. A partir de então, começou a beneficiar do Fundo de Coesão, arrecadando importantes e vastas verbas. Foram, por isso, enormes os benefícios que os políticos de então decidiram primeiro, e bem, canalizar e beneficiar as débeis infra estruturas, ignorando ou adiando áreas da economia que gritavam pela diversificação e competitividade. Nessa altura, obviamente, ninguém questionava a adesão. Antes pelo contrário! Ficar de fora, nunca! O mesmo sucedeu em relação à adesão ao euro, quando persistiam os problemas económicos e as enormes diferenças entre outros países membros. Tanto ao nosso país, como à Espanha, mas principalmente `à Irlanda, a adesão ao então Mercado Comum representou uma enorme e inquestionável vantagem. Prova disso, foi principalmente os países da antiga União Soviética, que depois de se tornarem independentes, procuraram imediatamente aderir, tornando-se membros entusiásticos. Indubitável e independentemente das vantagens económicas, a UE tem sido um elo de coesão entre países até então inimigos, reforçando a paz entre si. Embora acusada de deficiência democrática, facilmente se esquece que, independentemente de um executivo, reconhecidamente burocrático, as decisões principais são apenas tomadas pelo Plenário composto pelos chefes de governo e presidentes eleitos dos países membros. Se precisa de reformas e liderança? Claro, especialmente agora com a crise do euro em que, possivelmente, se procurarão novas medidas de maior integração política e fiscal.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Madagáscar, Paraíso em Vias de Extinção

Madagáscar, ou, para Camões (Lusíadas Canto X, 39 e 137), Ilha de São Lourenço, a mais antiga e quarta mais extensa ilha do mundo, com 587,051 km2 de superfície, situada no Estreito de Moçambique, e descoberta em 1500 pelo navegador Português Fernão Soares, como o Poeta cantava “Onde sai do cheiro mais perfeito /A massa , ao mundo oculta e preciosa”. Essa massa por muito tempo oculta e preciosa, é atualmente, um paraíso em vias de extinção devido a vários fatores – pressões populacionais (mais de 20 milhões com o aumento anual de 3%, uma das taxas de natalidade mais elevadas da África), pobreza, na média um euro e meio por dia, e turbulência política – mas sobretudo à pilhagem e rapina humanas. Riquíssima em recursos naturais e animais, uma vez que 90% das espécies de plantas e animais são únicos no mundo inteiro, devido ao isolamento e separação da ilha da África e da Índia, há 165 milhões de anos, criando várias áreas restritas de biodiversidade desprotegida. Se em termos de flora, como é o caso das multiseculares e altíssimas pau-rosa e das famosíssimas “baobabs”, além de preciosas plantas medicinais e odoríficas, como baunilha, fértil em regiões como Antalaha, no litoral nordeste, que foi uma das principais exportações e riqueza da ilha, mas que, devido ao aumento da produção mundial, os preços sossobraram; no domínio da fauna, além de ser local dos famosos lémures (cujo nome significa espírito de Deus), onde existem 20 espécies, nomeadamente a sitaka sedosa, em vias de extinção; em termos de répteis, numa população de 99%, 373 espécies são igualmente endémicas, particularmente a harlequin mantella, restrita aos planaltos centrais e, no domínio das aves, nas suas gradualmente extintas florestas, predominam 108 espécies igualmente endémicas, e únicas da Ilha, como o camaleão e o mais minúsculo dos mamíferos, o rato-lémur. Mas não só! Com uma plataforma marítima supostamente rica em petróleo, solo riquíssimo em minerais, ouro, titânio, niquel e cobalto e pedras preciosas como safira, em que já foi 1/3 exportador mundial, para a sua extração, particularamente clandestina, destroem-se preciosas florestas. Se no abate clandestino, por gangues organizados das árvores pau-rosa, tipo de madeira considerada luxo na China, seu principal mercado, que só em 2009, com a derrocada do governo, importou clandestinamente mais de 300 milhões de euros deste tipo de madeira, nas florestas do nordeste onde foram abatidas diariamente preciosas e antiquíssimas árvores, no valor de 700 mil euros, destruindo uma área de 61,750 hectares, principalmente no Parque Nacional de Masoala, no litoral nordeste da ilha, atividade só largamente possível a uma rede de corruptos guardas florestais. A extração de níquel e cobalto, quando desregrada, e sem possibilidades de vigilância estatal adequada, como acontece em Ambatovy, na zona central oriental, não só prejudica a destruição de preciosa floresta tropical como provoca a perniciosa erosão. E, se tudo isto não bastasse, uma população faminta, que além do abate clandestino das árvores pau-rosa, procura outros meios como a extração clandestina de minerais, especialmente pedras preciosas, tão procuradas por especuladores do mercado asiático, nomeadamente no Sri Lanka e na Tailândia, bem como o abate clandestino dos raros e cada vez mais extintos lémures, iguaria em guisados dos retaurantes tanto da capital, Antananarivo, como da China.

De origens árabes e composta por vários reinados, segundo navegadores portugueses no seu litoral, principalmente na zona norte, proliferavam povoações dominadas por arquitetura semelhante à de Kiwa, atualmente na Tanzania, antigo e importante entreposto comercial. Julga-se que faziam parte de uma rede de comércio árabe. Este, particularmente o caso de Vohemar, centro comercial da ilha, modelo original das tradições artesanais malgachi e afro-árabe. Compreende-se a cobiça dos navegadores portugueses que à costa abordaram e, até navegaram rio acima do Matitana, na costa ocidental do sudoeste, para, naturalmente, pilharem, obviamente contra a oposiçao da população, dentre ela descendentes de mouros de Malinde. (Melinde, onde Vasco da Gama se reabasteceu, e “reformou” a 15 de Abril de 1498 – Lusíadas Canto II, 57-58,70, 73,94 e X-39,96). De colónia francesa, Madagáscar adquiriu a independência em 26 de Junho de 1960 sob a presidência de Tsiranana que governou o país até a 1972. Sujeita a várias crises, com consequentes perdões de dívida e de investimento, procura aproximar-se da África do Sul em termos de desenvolvimento. Devido a dirigentes corruptos, como foi o caso do Presidente Marc Ravalomanana, que ganhando as eleições a pretexto de inúmeras e necessárias reformas, encheu o bolso e, perante uma população faminta e revoltada que assomou aos portões do palácio, em 7 de Fevereiro de 2009, foi recebida a tiro, fazendo 30 vítimas mortais. Este incidente cultminou com a sua demissão pelos militares, refugiando-se na Suazilândia.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O PORTUGAL QUE DESCONHECIA

Envolvido, imerso, numa sociedade de enorme historial imperial, industrial e inovador que generosamente em dois sangrentos conflitos mundiais imolou centenas de milhar de filhos e sacrificou o seu poderio imperial por uma Europa e Mundo livres, meio século depois, despertei para o país que me viu nascer. Nas obrigatórias visitas anuais e muitas outras profissionais, ilusório acompanhar do seu desenvolvimento, agora, graças ao maior tempo de permanência apercebi-me e constatei o seu enorme desenvolvimento. A nível social, maior civismo, solidariedade, com vários centros sociais de assistência aos carenciados, infelizmente cada ves maiores, como é o caso do de Valongo, ou no tocante aos livros escolares às famílias mais necessitadas, ou ainda a solidariedade dos pais na restauração de escola Francisco da Torrinha, no Porto, contribuindo 600 euros cada; afabilidade e comunicabilidade; amor, zelo e preservação da sua história, como foi o caso da recreação do cerco e retoma de Almeida, em 1810, em que os participantes, envergando trajos da época (soldados britânicos, franceses e espanhóis) reviveram os recontros das guerras peninsulares, ou ainda a clara evidência dos ´vários museus regionais, como o do Pão, no Fundão, o Museu do Arroz de Bemposta, o da Água Castelo, em Pizões, Moura, as Grutas de Montemor-o-Novo ou ainda o Museu do Acordeon, em Paderne, Albufeira, no Algarve; maior sentido de identidade cultural, principalmente refletida nos seus costumes e tradições, destacando-se o belo exemplo de Campo Maior, a cidade alentejana cuja população confeciona ricas flores de papel para, de quatro em quatro anos ,engalanar as suas ruas, ou as várias feiras medievais, nomeadamente a de Leça do Bailio; os ricos folclore, artesanato e gastronomia, como ficou provado no excelente sarau da RTP1, realizado no sábado 10 de Setembro sobre as Sete Maravilhas da Gastronomia Portuguesa; maior apetência e aplicação na cultura, no saber e na investigação; proliferação dos centros comerciais, muitos deles excelentes obras de arquitetura. A todos estes, acrescente-se o importante elemento do zelo pelo meio ambiente, prova observada em várias autarquias, quer pela preservação e restauração de parques, o encorajamento do cidadão para as hortas ecológicas, caso das câmaras de Cascais e da vizinha Oeiras ou ainda o plano de construção de ilhas ecológigas subterrâneas para a recolha dos resíduos domésticos, como é o caso da Câmara de Cascais. O povo português, meu concidadão, de que muito me orgulho, prospera, tendo sabido contornar as dificuldades, agora infelizmente acrescidas, resultantes da falta de visão e excesso ideológico de certos políticos. Confio, que graças ao seu conhecido ressaliente espírito e estoicismo vença as ainda maiores vicissitudes que se avizinham. Confiemos que, embora manifestando-se nas ruas, um nobre direito consagrado na Constituição, que a raiva contra tão involuntária desgraça continue a verificar-se sem tumultos, como aconteceu nas manifestações do dia 1 deste mês. Este, um nobre e digno exemplo, característica singular do SER-SE PORTUGUÊS!
Porém, como condutor, pois há quase meio século faço a viagem de automóvel da Inglaterra para Portugal e regresso e obviamente vi construír as auto-estradas francesas e espanholas, nomeadamente a dos Pirinéus, lamento a série, parece infinita, de mortes na estrada. No nosso país, pelo menos até 7 de Setembro deste ano, neste ano de 2011, foram ingloriamente ceifadas 447 pessoas. Cômputo intolerável para um país com apenas na casa de 10 milhões de habitantes. Observador dos abusos da velocidade, é pena que o cidadão ao volante se torne num assassino, particularmente quando se dispõe de uma boa rede de auto-estradas ou de vias rápidas, o que não acontecia há alguns anos atrás. Que se mate a si próprio, aceita-se, agora que dizime outros inocentes condutores e passageiros é incompreensível e inaceitável. Esta, a triste e endémica mancha de um povo que se imola ao volante. Até quando, meu redescoberto Portugal?

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

JORNALISMO: Fidelidade às fontes e respeito pelas audiências

Para profissionais de jornalismo, como eu, que tiveram a ventura de aprender, serem formados, mas acima de tudo moldados, viver e servir, mais de três décadas, nessa notável escola chamada BBC, o amor – o dever – à verdade, zelo à transparência, à imparcialidade, fidelidade e confidencialidade às fontes, não é apenas uma obrigação, mas timbre de uma carreira que se impõe como ímpar em servir e respeitar as audiências que nos honram com a sua preferência! Todos estes marcos são ainda mais evidentes quando tanto a nossa origem cultural e étnica, como, e muito particularmente, as inevitáveis filiações partidárias, obviamente tendem a influenciar as nossas percepções e ações. Embora nem sempre, mas por muito grande que seja a tentação em interpretar-se a notícia, esse grande lema da BBC é demasiadamente sagrado, para não ser profanado. Ao leitor, ao ouvinte ou ao tele-espetador, por merecer todo o respeito, deve ser transmitida toda a verdade, e nada mais que a verdade. Verdade, nua, crua! Isenta de floriados. Por isso mesmo, na "Bíblia" da BBC, - O Guia Editorial - a certo passo, diz-se o seguinte: "O jornalista pode espressar uma opinião profissional, mas nunca uma opinião pessoal..." Outro ponto cardeal é o dever da fidelidade às fontes. Ainda citando a experiência da BBC, quando uma notícia é referida na base do "off the record", ou seja, para não ser divulgada, como é um dever sagrado, permanece, por isso mesmo, no segredo dos deuses. Os jornalistas, como seres humanos, movendo-se muitas vezes pelo fervilhar da adrenalina, não estão isentos de tentação. Que vale uma "caixa" sensacional, mas efémera, quando se renuncia ao que se
é, traíndo não só os seus princípios, mas, acima de tudo, os que nele confiam? Mais vale uma fonte permanente, à qual se pode recorrer, do que a efémera fama, que se poderá obter, mas possivelmente uma vez, e, com ela, o inevitável descrédito! Valiosíssimas são as fontes, que ao serem fielmente preservadas, cimentam, fundamentam e dão crédito à informação! Mais! Revelar o que se sabe, mas nunca o que confidencialmente lhe é participado, do que, por muita certeza que se tenha no jogo da probabilidade, se procure especular.

Vida fértil em episódios interessantes, particularmente quando se trata de uma longa e profícua carreira, muito poderia descrever, caso o espaço me permitisse. Limito-me ao que considero mais cómico e revelador. Estava-se, ao serviço do Jornal de Notícias, numa das muitas cimeiras da União Europeia, que, francamente, detestava cobrir, mais pelo facto de durante o dia nada de importante havia para relatar, limitando-me a “catar”o mais possível, aqui e ali, algo que considerava importante para a peça final. De repente, quase à hora do fecho da edição, surgia a irritante declaração final, seguida das conferências de imprensa das delegações nacionais. O episódio passou-se em Dublin, na Irlanda, nos meados dos anos 80. Naquela cimeira, Frederick W. de Clerk, então primeiro-ministro da África do Sul, procurava a desejada abertura no Ocidente e tentativa de abandono do Apartheid. Devido ao boicote comercial, tentou aliciar com a venda de Rands de Ouro. Conhecedor da posição britânica e do interesse de Margaret Thatcher em apoiar as tentativas do homólogo sul-africano, soube de boas fontes que a Grã-Bretanha, então isolada, procurou - e conseguiu - o apoio de outro país, Portugal, mas que pretendia o anonimato. Consciente desta posição, interroguei, no enorme salão, repleto de colegas internacionais, o então primeiro-ministro irlandês, na sua capacidade de Presidente, sobre quem era o país apoiante do Reino Unido. Perante irritante hesitação, decidi lançar a bomba, perguntando se esse país era Portugal, o que foi obrigado a confirmar! Obtida esta admissão pública, apressei-me a chegar à sala onde decorria a conferência de imprensa do então ministo dos negócios estrangeiros do nosso país, o Prof Dr. João de Deus Pinheiro. ´Como, para lá chegar, tinha de passar pela sala do Reino Unido, precisamente no momento em que falava Margaret Thatcher para os jornalistas britânicos, - eureka! Divulgava e manifestava a sua gratidão ao nosso país! Ao avistar-me com João de Deus Pinheiro, disparei-lhe a pergunta se Portugal era o país apoiante do Reino Unido na questão da venda dos rands de ouro. Hesitando, poupei-o do aparente embaraço, informando-o de que tanto Margaret Thatcher como o primeiro-ministro irlandês haviam-no já confirmado publicamente há instantes. Metendo a mão ao bolso, o ministro mostrou-me um guardanapo em papel com os dizeres “Thank you João!” (Obrigado João!) escrito pelo homólogo britânico, Douglas Hurd, que ao lado dele se sentara no almoço! Seria bom que nas muitas circunstâncias que se seguiriam ato semelhante fosse reciprocado pelo país beneficiado!

sábado, 22 de outubro de 2011

A TRAGÉDIA DAS MINAS ANTI-PESSOAIS

Pouco antes da sua morte e quando tentava uma entrevista com a Princesa Diana, acabada de regressar de Angola, na sua campanha contra as minas anti-pessoais, foco de um então excelente documentário da BBC, esse enorme flagelo, que, além das múltiplas mortes, deixa milhares de vítimas sem braços ou principalmente pernas, como é particularmente o caso de Angola, Moçambique e da Bósnia, recebi a seguinte carta em nome da Princesa, datada de 21 de Fevereiro de 1997, e redigida pela sua secretária pessoal. Embora não mencionasse a eventualidade de uma desejada entrevista como solicitara, começou: "A Princesa ficou sensibilizada pelo facto de ter tido o incómodo de escrever sobre o documentário que tinha visto da sua visita a Angola. A Princesa de Gales espera que o mundo tenha agora uma melhor perceção sobre o sofrimento causado pelas minas anti-pessoais pelo que espera ter a oportunidade de visitar alguns dos outros sessenta e cinco países igualmente afetados. A sua carta teve um grande significado para a Princesa pelo que me pediu expressamente para transmitir-lhe o seu profundo apreço...."
Com a sua inesperada morte, a campanha contra as minas anti-pessoais perdeu uma das figuras mais notáveis. Porém, várias entidades, nomeadamente a Cruz Vermelha Britânica e a International Campaign to Ban Landmines (ICBL), com sede em Genebra, que em 2007 foi distinguida com o Prémio Nobel, são as mais notórias. As minas anti-pessoais, objetos de metal ou plástico em sua maioria contendo shrapnel, esse horrível material que tantos destroços provoca nas vítimas, de que as forças do dirigente líbio, Muamar Khadafi são acusadas de terem lançado contra a população de Misurata, inicialmente utilizadas como bombas anti-tanques, e, mais tarde, utilizadas como meio de proteção fronteiriça, em termos bélicos, ou seja, para atingir ou matar soldados, começaram a ser utilizadas na II Guerra Mundial e, desde então, nas guerras do Vietname, Coreia e do Golfo e, mais recentemente, no Afeganistão em que o sargento britânico, Karl Ley bateu o recorde mundial da desativação de 183 bombas terrestres colocadas pelos Talibans nas vias de circulação, recebendo justificado galardão com a Medalha de St. George, uma das mais altas distinções britânicas. Devido ao fator económico e à facilidade de manufaturação, particularmente em armas artesanais, passaram a servir, igual e mais comumente, em guerras civis ou armas de guerrilheiros. Difíceis de detetar, como são colocadas no terreno, e ali permanecendo anos e até décadas, quando pisadas por seres humanos, e, por isso, denominadas de armas de ativação pelas vítimas, imediatamente explodem matando ou até desmembrando as pessoas, muitas delas crianças, que na melhor ds hipóteses podem apenas causar cegueira ou queimaduras. Só em 2008, segundo a ICBL, registaram-se 5,197 vítimas, sendo 1,266 mortais, em 66 países. Com a entrada do Tratado para Banir as Minas, em 1 de Março d 1999, assinado e retificado por 156 países, o problema persiste pelo facto de restarem 39 importantes países, nomeadamente o Egito, Birmânia, China, Índia, Rússia, Paquistão, Afeganistão, Colômbia, Perú, Cuba e Estados Unidos da América, que ainda não o fizeram.
A luta, é a deteção destes aparelhos e a campanha da sua limpeza e destruição, atualmente a cargo de várias associações de caridade, nomeadamente a Mines Awareness Trust (MAT), radicada nas Ilhas do Canal (Guernsey). Trabalho arriscado, como pessoalmente observei na Irlanda do Norte, onde eram utilizados robots detetores e destruidores deste e de outros tipos de dispositivos, é, porém, tanto no Iraque, e mais recentemente no Afeganistão, funções desempenhadas por militares altamente especializados, em que, por isso mesmo, as baixas são maiores. Fora disso e principalmente em locais como Bósnia e Moçambique, a deteção das minas está a ser eficientemente desempenhada ou por ratos ou por cães! Estes animais, graças ao seu elaborado faro, mas especialmente ao seu reduzido peso, detetam as minas sem as despoletarem. No caso dos cães, cujo treino é altamente dispendioso, cerca de 40 mil euros cada, parte importante do treino é o animal não pisar o objeto, mas parar à distância de um metro e, apenas, olhar para o dono! Quanto aos ratos, mais leves, ao passearem no terreno minado o olfato deteta as minas e pára, sinal mais do que clarividente da existência de minas! Só em 2008 a área de 270km2, em vários países, foi inspecionada e limpa. Um vasto programa de limpeza está programado até 2015, referente a 25 países, incluindo Malvinas, Albânia, Guiné-Bissau, Etiópia, Afeganistão, Argélia e Angola.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

ÁGUA “SEIVA DO NOSSO PLANETA”

Ao passar, várias vezes, principalmente no verão, tanto pelo Rio Dão, bem como visitar o saudoso Dinha da infância, ou atravessar, neste caso de carro, o Mondego, dos quais depende a irrigação e a verdura dos campos que atravessam, qual não é o pesar ao vê-los reduzidos, a pouco mais, na melhor das hipóteses, de um pobre ribeiro. Semelhante sentimento, mas este pior, foi ao visitar a bela Lagoa Azul, na Serra de Sintra, em Janeiro de um já remoto ano, e vê-la completamente seca! Ainda que, com a excepção, desta última, tudo dependa da época do ano, facto é que, devido às mudanças climáticas, a água dos rios ou os recursos aquáticos mundiais estão perigosamente a desaparecer. Quando, segundo o historiador religioso, Mircea Eliade, escrevendo em 1950, afirmava que “as nascentes de água são a origem de toda a nossa existência”, e segundo o artigo 2 da Declaração Universal dos Direitos da Água, “a Seiva do Nosso Planeta”, os Babilónios insistiam que o mundo era formado da mistura de água doce com água salgada; os Índios Pima criam que a Terra-Mãe era emprenhada pela água, e o psicólogo Carl Jung afirmava “que sem água ninguém pode viver”, está-se perante uma invulgar tragédia humana. Se, como vimos, da água depende a nossa existência, a ameaça da sua escassês é um verdadeiro pesadelo! Este, aliás, o louvável tema recente de um seminário, intitulado “Aqua Nostra”, realizado nesta cidade pelo Rotary Club de Tondela. Num Planeta como o nosso, coberto de água, mas que 97% é salínica e cerca de 2% está transformada em gelo, resta apenas menos de 1% para a irrigação da agricultura, o arrefecimento das centrais elétricas, como se tem bem presente a luta titânica na central nuclear de Fukuxima, no norte do Japão, para impedir uma catástrofe nuclear, bem como para o consumo doméstico. Com a população mundial atualmente em 6 biliões, 850 milhões e 500 mil e com o aumento anual de 83 milhões, a crise da escassês mais se agrava, quando já é negríssimo o cenário actual: calcula-se que 1,1 bilião de pessoas vive sem água potável, 2,6 biliões sem condições sanitárias, 1,8 milhões morrem de diarreia e 3,900 crianças perecem diariamente resultante de doenças relacionadas com a água ou falta dela. E, infelizmente os exemplos são inúmeros!

Os gelos do Himalaia, que alimentam quatro dos mais poderosos caudais mundiais – Yangtzé, Amarelo, Mekong e Ganges - nomeadamente as montanhas mais altas de Kawagebo, a 6, 600 metros de altitude, as principais nascentes destes poderosos rios, entre Agosto de 1921 e Outubro de 2008 perderam 10,5 metros verticais de gelo, com o maior índice de agravamento entre os últimos 50 anos em que não se tem verificado a habitual compensação sasonal de gelo. Nesta zona, classificada pelo glaciologista da Universidade do Estado de Ohio, Lonnie Thompson, de “banco da água doce de que depende toda a Ásia”, a situação é crítica. Isto significa que caso esta tendência se mantenha, toda a vastíssima zona do sudeste asiático, que destas águas depende, está em risco de trágica e permanente seca. Outras zonas, como a bacia dos rios Murray-Darling, no sul da Austrália, até agora celeiro do país e de criação de gado, devido à invulgar e longa seca, está a afastar o vasto número de agricultores que dela dependiam. Isto, não obstante as recentes e devastadoras inundações! Outro exemplo semelhante é o Peru e o Equador. No vasto nordeste do Perú e sul do último, numa superfície de 2,250 km2 estende-se o Deserto Piura, centro de vasta espécie de cactos e outra vegetação endémica. Dependendo das vagarias do perigoso El Nino, e de umas escassas gotas de chuva, o normal é a aridês e a contínua seca o que provoca a fuga das desgraçadas populações à procura de escassos pastos para os debelitados rebanhos. Compreende-se porque o Equador foi o primeiro país do mundo a incluír na sua Constituição os direitos da natureza a fim de que os rios e as florestas não exerçam apenas funções de propriedade, mas seja-lhes outorgado o direito de prosperar. Situação idêntica acontece na Etiópia, cuja população, em maioria mulheres, gasta horas e horas, na média seis por dia, para, normalmente, com uma colher de pau, obter um cântaro de água impura para suster a família, já que é inexistente para banhos ou outras carências higiénicas básicas! Na realidade, enquanto 46% da população mundial não dispõe de água canalizada nas suas habitações e os habitantes mais pobres não dispõem de 20 litros de água, a população americana desperdiça, diariamente, 400 litros deste precioso líquido. Efetivamente, enquanto a população da Califórnia conta com a maior rede mundial de canalização de água – 1,660km – dentre os quais o Aqueduto da Califórnia, de 710km de extensão, noutros pontos do Globo, nomeadamente no Próximo Oriente – Israel, Palestina, Jordânia, Iraque e Síria - a escassês deste precioso líquido, e a sua retenção ou desvio, principalmente por parte de Israel, representa uma ameaça constante de Guerra. Em todo este cenário, meditemos nesta curiosidade: Dos 1.260.000.000.000.000.000.000 litros de água que existem no nosso planeta, 290.000.000.000 são diariamente consumidos pela companhia Coca Cola, que vende 1,5 biliões de refrigerantes por dia, em 200 paises (dados de 2006).

Nota: A União Europeia publicou um relatório sobre a escassês da água em 18 e Maio de 2010
Agradecimento, e maioria dos dados, a National Geographic (edição de Abril de 2010 em Inglês).

domingo, 25 de setembro de 2011

A OCULTA FACETA DO ROMANCISTA E DRAMATURGO SOMERSET MAUGHAM

Embora quase durante 60 anos fosse um dos mais aclamados e famosos escritores em todo o mundo e o seu apogeu literário-teatral mundial predominasse nos anos 40 e 50, com a maioria das suas obras, (21 romances e 100 novelas) traduzidas em centenas de línguas, incluindo o Português e parte do panteão dos clássicos, William (mais conhecido por Willie) Somerset Maugham (1874-1965), é de novo lembrado, com a publicação de uma extensa biografia (*), com a particularidade de elementos nunca divulgados. Trabalho meticuloso e exaustivo da escritora-jornalista britânica, Selina Hastings, o leitor-admirador de Maugham, encontra nesta obra revelações, muitas delas chocantes, particularmente naquilo em que o brilhante autor-dramaturgo procurou, ao longo da sua longa vida, ocultar – a sua homosexualidade e, não só. Como a biógrafa assinala, “mestre do disfarce”, cujo biombo matrimonial com Syrie Welcome (filha do célebre médico autor da Fundação do mesmo nome) ocultou uma depravada sexualidade aos olhos do mundo e cujo desastroso relacionamento provocou a diversão em inúmeras viagens, embora das quais recolheria múltipla matéria para temas literários e teatrais. Dominado pelas letras, às quais religiosamente dedicaria as manhãs ao longo da sua longa vida, particularmente na sua bela vivenda Mauresque, em Biarritz, Somerset Maugham é, finalmente, desmascarado.
Interrogado em 1955, aos 81 anos de idade, se desejaria ver-se biografado, respondeu, dismissivamente, que “as vidas dos escritores modernos não têm qualquer interesse, e a minha, por ser insípida, não gostaria de vê-la associada a coisas dissaboridas”. Tinha boas razões. Não pela alegada vida insípida, mas pelo que, a todo o custo, queria ocultar. Antes, o sobrinho, Robin Maugham, o quis fazer. Quando lhe participou as suas intenções e que, para tal, já lhe fora adiantado a participação dos direitos, qual não foi o esforço do escritor, principalmente com a editora, em dissuadi-la do projeto, enquanto ao sobrinho pagou a então vasta fortuna que receberia pelo seu trabalho. Já no limiar da longa vida, mudou de ideias. Mais por convencimento e, acima de tudo, lucro do segundo e mais fiel amante, Alan Searle, juntamente por insistência do astuto magnate de imprensa, Lord Braverbrook, que queria, como conseguiu, serializar as suas memórias (Setembro e Outubro de 1962), e também por considerar ser melhor ele fazê-lo, esta experiência ser-lhe-ia altamente prejudicial, tanto ao seu enorme prestígio como, mas muito especialmente, à
sua já débil saúde, apressando até a morte. Ao escrever o que intitulou “Looking Back” (Memórias do Passado), das quais Alan receberia embora modesta quantia de Beaverbrook em relação à então fortuna, 1/4 de milhão de dólares, da revista Show americana, ao fazer revelações até então íntimas de amigos e de figuras influentes da época, Maugham pagaria caro. No fim da obra, o autor ao admitir ser “uma criatura muito imperfeita e atormentada” e adianta que “ao escrever [as memórias] fi-lo para desfazer-me de pesadelos que muitas vezes me obrigaram a noites sem dormir”. As reações foram intensas e inesperadas. Não só e principalmente à qualidade do trabalho, que deslustrava uma imagem literária incólume, mas, acima de tudo, a senelidade e o estado mental do autor. Escritores amigos como o prestigiado Noel Coward (1899-1973) não se contiveram. Para este último, trata-se de “altamente ultrajante” e um “trabalho senil e escandaloso”, Para outro, como Grahame Greene (1904-1991), Maugham, não passava de “um obsceno e vil sapo”, (ou seja), pessoa detestável. P ara outro escritor e amigo, Gore Vidal, referindo-se à venerada imagem criada pelo romancista-dramaturgo, “o velho Maugham minou o seu próprio monumento, fazendo-o explodir” . Desprezado e humilhado, o autor, profundamente desolado, lamentando e chorando, fechou-se por completo, refugiando-se no seu chalé, do sul da França, para nunca mais voltar à Inglaterra, o país que igualmente, como patriota, serviu e muito contribuíu em missões secretas nas duas grandes guerras, mas especialmente na segunda, tanto na Rússia e na França como, e muito principalmente, nos Estados Unidos, onde desempenhou importante papel a favor do auxílio daquele país e povo ao sacrificado e heroico povo britânico, contribuindo, enormemente, para a sua adesão e a consequente vitória aliada.
(*) The Secret Lives of Somerset Maughan, de autoria de Selina Hastings. Editora John Murray (Londres)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A GRANDE E SURREPTÍCIA INVASÃO ISLÂMICA

CAROS AMIGOS BLOGUISTAS,

Depois de uma longa ausência no nosso querido e rejuvanescido país, cujas experiências serão assunto de um próximo artigo, aqui estou, com um grande abraço, para partilhar o prazer da vossa sempre amável companhia! O melhor para todos.


Nas últimas décadas, mais por razões económicas, devido à massa migratória, e, mais recentemente, provocadas pelas consulsões no Mundo Árabe, a Europa, subitamente, acordou à nova Invasão Mussulmana. Como se sabe, desde a Primeira, liderada por Tarik ibn Ziyad (nome que deriva de Jabal Tarik – Montanha de Tarik), que capturou a Península Ibérica, em 711 AD, e que, em corruptela, resultou no nome de Gibraltar, a dominarem até ao período dos chamadoss reis Católicos, Isabel e Ferdinand de Castela (1451-1504), a quem se deve a expulsão do último reduto mussulmano, até então radicado em Sevilha e Córdova, califado fundado por Abd-ar-Rahman I, em 756AD. Aliás, a este casal real, e especialmente ao seu fervor católico, leia-se, fanatismo, devem-se, igualmente, duas das grandes manchas da História – a Inquisição e a Expulsão dos Judeus, em 1478. Radicados à tão cobiçada África pelos Europeus, os Mussulmanos, inicialmente apenas de origem árabe, acomodoram-se e praticamente ali permaneceram ignorados. Salvo a cultura e raro acervo literário de Timbuktu, no actual Mali, fundada no século XI, um povo praticamente nómada, só de novo lhe foi prestada atenção nos finais do século XIX, devido ao petróleo, e este inicialmente na atual Arábia Saudita. Ironicamente, é neste país que historiamente tem origem a Civilização Mussulmana, ou Islâmica. E, se Islamismo é um termo puramente religioso, que o Al Corão define por

devoção ou submissão a Deus, mussulmanismo (raíz etimológica do árabe moslin + persa an) é gentílico, embora hoje sejam indistintos. De acordo tanto com a tradição mussulmana, como com a historiologia moderna, o Islão teve origem na Arábia, ou Najd (actualmente Arábia Saudita). Para os mussulmanos, o islamismo teve início não com Maomé, mas com Abraão e seu filho Ismael, este o progenitor dos Árabes, com a edificação de Ka'ba, em Meca, centro de peregrinação anual dos fieis, (geralmente em meados de Novembro) situada na vasta região ocidental, conhecida por Hijaz. Como se sabe igualmente, foi ali que Maomé nasceu, em 570, oriundo da tribo menor Quaryash. Cedo órfão, em 610, aos 40 anos de idade, e, quando casado com a rica mentora Khadija, 15 anos mais velha que ele, começou a ter revelações, num período de 23 anos, atribuídas ao Anjo da Revelação (Gabriel) como intermediário, as primeiras, quando se encontrava só, nas Caves de Hira, em 610, que o instruiu "Lê, no nome do teu Senhor!", ao qual replicou não saber ler. Depois de forçado, recitou as duas primeiras linhas, que, compiladas, mais tarde, dariam lugar ao Al Corão (que significa leitura/recitar), e que inicialmente partilhou com a família e amigos. Caberia a Abu Bakr a primeira compilação e, ao terceiro califa, 'Uthman, a distribuição pelo mundo islâmico, do que passaria a ser conhecido por Codex 'Uthmânico. Mensagem monoteísta, cedo enfrentou problemas com a cultura local, essencialmente politeísta, provocando tanto a sua fuga como a dos seus acólitos, em 622, para Yatrib, mais tarde conhecida por Madinat al-Nabi (cidade do Profeta), ou, simplesmente Madina (Medina), um oásis populado por Judeus onde se tornou indistinguível pelo facto de, como eles, reconhecerem os profetas bíblicos e, tal como as tribos locais, gozaram da mesma liberdade religiosa. Madina, seria o génesis do primeiro Estado mussulmano. Foi a emigração, que os mussulmanos chamaram hijra, que constituíu o início da carreira de Maomé como estadista e figura, para alguns, mas erroneamente, fundador da religião, que o levaria a ser considerado infalível, até à sua morte, em 632. Depois de várias dissenções e até guerras civis, particularmente devido à sucessão, ou califado, de Maomé, por um lado, aqueles que advogavam a sua morte como fim natural de uma Era (Xiítas), e, com ela, desvinculamento a obrigações financeiras; outros, preferindo dinastias, como a Umayyads (661-750), - Abu Bakr, 'Umar (reinado entre 634-44), 'Utman (r.e. 644-56) e 'Ali (r.e. 656/61), (Sunis), todos descendentes de Maomé, de sangue ou de casamento, a estes, deve-se o maior impulsionamento do Islamismo. Se inicialmente a maioria do povo árabe era nomádico e dedicado à pastoralícia, por natureza disperso em várias

tribos, quatro importantes fatores influíram na sua expansão: o camelo, como importante meio de deslocação e transporte nessa vasta região sem estradas; a dinastia Umayyad, com as várias conquistas e a unificação tanto devido à religião como, e muito importantemente, à adoção da língua árabe. Fenómeno extraordinário, o Islamismo espalhar-se-ia desde a Península Ibérica às Balcãs e à atual Viena, incluindo as Américas, Austrália, China e Indonésia, este o maior país mussulmano do mundo. Na Grã-Bretanha surge o fenómeno do elevado número de mulheres que se converte ao islamismo, em relação aos homens! Na totalidade, estima-se que existe um bilião de mussulmanos em todo o mundo, sendo a maioria

Suni. Porém, só no século XX e XXI é que os mussulmanos e, com eles o Islamismo, regressariam à Europa, como vimos, via Emigração, o que realmente continua, nas últimas semanas, via ilha de Lampedusa, na Itália..

Nota: Os interessados têm uma nova, recente e excelente edição do

Al-Corão, em duas versões paralelas na mesma página – Inglês

quinta-feira, 12 de maio de 2011

A desmascarada tortura

A tortura, essa velha prática de flagelar as pobres vítimas, quer física, quer psicologicamente, com o objetivo de se obter submissão ou informação, não é nova. Comum entre os antigos Romanos e os Gregos, e, depois na Idade Média, particularmente ainda bem visível na Inglaterra, nos vários objetos e métodos de bárbara tortura tanto nos castelos britânicos, como o de Warwick (centro da Inglaterra), em que predomina o esticador dos membros e o içar do corpo, como em certas vilas e aldeias onde ainda se pode ver o comum cepo da cabeça e das mãos ou, para quem lê Anthony Hope, nomeadamente em obras como O Prisioneiro de Zenda, adaptado a várias versões cinematográficas, nomeadamente à máscara de ferro à qual o Rei Rudolfo V da Ruritânia, esteve sujeito por imposição do usurpador e meio irmão, Michael, durante a prisão, tudo isto é suficientemente aterrador das bárbaras práticas de antanho. Considerada legal nos casos em que era necessário obter evidência dos suspeitos, a prática da tortura era corrente entre os séculos XIV e XVIII por essa Europa fora, e inclusivamente nos casos de heresia, no seio da Igreja Católica, na chamada Inquisição, criada pelos Reis Católicos (os espanhóis Isabel e Ferdinand), em 1478, de que também a História Portuguesa é fértil.

Prática de antanho? Não! A tortura, especialmente para fins políticos, é tema bem atual, particularmente na Grã-Bretanha. Esqueçamos, caso isso seja possível, as horríveis cenas praticadas pelos militares americanos na prisão de Abhu Graid, no Iraque, ou as que foram denunciadas pela WikiLeaks, em 400 mil documentos, em 22 de Outubro último, em que, entre 2003 e 2009, pelo menos 104 mil pessoas foram sistematicamente mortas, entre as quais mais de 60 mil civis e a predominante e selvática tortura praticada pelas forças iraquianas, treinadas pelos americanos que fechavam os olhos a semelhante prática, que compreensivelmente tanto furor provocaram em todo o mundo. Concentremo-nos, porém, noutro horrível exemplo, desta vez na controversa prisão americana na Base de Guantânamo, em Cuba. Este, particularmente o caso do cidadão etíope, mas residente na Inglaterra desde 1994, Binyam Mohamed, que acusou os serviços secretos britânicos, MI5/MI6, de conluirem com os colegas americanos no interrogatório e tortura a que afirma ter sido submetido, primeiro no Afeganistão e, em seguida, em Guantânamo. Mas não só ele, outros 15 detidos, cidadãos de ou residentes na Grã-Bretanha, ganharam o caso, com elevadas indemnizações arrancadas ao governo britânico, entre 6 e 12 milhões de euros, que a conselho dos serviços secretos preferiu esta solução em vez de ter de divulgar publicamente, em tribunal, factos desagradáveis do seu alegado envolvimento. (Aiás, este, e qualquer envolvimento, foi desmentido pelo chefe dos Serviços de Segurança MI6, Sir John Sawers, bem como pelos colegas de MI5). Inicial e furiosamente negado, competiu ao juiz do Tribunal Supremo, Lorde Judge, baseado em evidência apresentada em tribunais americanos, concluír que, efetivamente, as “autoridades britânicas” tinham estado “envolvidas e até facilitado os maus tratos e a tortura” aquando Binyam esteve detido pelas autoridades americanas. Furor! Mas há mais! O clamor recrudesceu, não pelo facto da conclusão jurídica, mas sim pela intervenção do governo em solicitar a não divulgação das provas. Coube a outro Juiz, Lorde Neuberger, denunciar a inaceitável tentativa, mas pior, acusar o governo de “deliberadamente enganar” o Parlamento no que classificou de “hábito de supressão”. E, se isto não bastasse, surgem novas acusações, em que o Exército Britânico é o visado, durante a sua permanência em Bassorá, no sul do Iraque, em que várias vítimas civis foram objeto de inaceitável tratamento, cujos casos decorrem atualmente em tribunais britânicos. É extremamente invulgar na sociedade britânica questões desta natureza. Os tribunais procuram ciosamente guardar e manter a sua multi-secular independência de qualquer Executivo. Por isso, compreende-se a sua reação. O que, porém, não dignifica é a pretensão oficial das autoridades britânicas, e muito particularmente os seus Serviços Secretos, em negarem a existência de/ou envolvimento em tão condenável prática!

NOTA. DEVIDO A LONGA AUSÊNCIA, ESTE ESPAÇO VAI FICAR DESATUALIZADO ATÉ MEADOS DE SETEMBRO, REGRESSANDO COM MAIOR VIGOR E INSPIRAÇÃO. O DEVIDO PEDIDO DE DESCULPA E COMPREENSÃO A TODO(A)S O(A)S AMÁVEIS E DEDICADO(A)S LEITORE(A)S.

sábado, 7 de maio de 2011

COLIGAÇÃO DESCOLIGADA?

As eleições regionais e autárquicas, realizadas na quinta-feira 5 de Maio, mas principalmente o referendo sobre a alteração constitucional, o primeiro desde a saída ou não do Mercado Comum, em 1975, foram reveladores. Se no último, promessa resultante da coligação, resultou, largamente, na inalterável posição atual, nas primeiras, a grande surpresa foi a obtenção da maioria absoluta do partido nacionalista escocês, SNP. Isto significa que, possivelmente daqui a dois anos realizar-se-à o há muito prometido referendo para a secessão da Escócia do Reino Unido, possibilidade que será fortemente resistida pelo governo central de Westminster, seja qual for o partido no poder. Quanto ao referendo, e nas eleições autárquicas, a forte derrota dos Liberais-Democratas, ainda que as promessas de que não afetarão a coligação, os efeitos, especialmente devido à posição assumida pelos Conservadores, que os Liberais Democratas acusam de desleais, as verdadeiras consequências só o tempo revelará.

O atual governo britânico, coligado entre Conservadores e Liberais Democratas (Lib Dems), desde Maio do ano passado, o primeiro do género desde o início do século, não obstante os desafios, nomeadamente o aumento dos impostos e drásticas reduções na economia, elevado aumento das propinas universitárias, às quais os chamados Lib-Dems tinham prometido abolir durante a campanha eleitoral, que lhes custou o opróbrio dos seus adeptos e simpatizantes pelo incumprimento da promessa, e várias e numerosas manifestações, algumas delas violentas, tem funcionado relativamente bem como coligação governamental. Porém como cada partido procura manter a sua independência fora do governo, o que tem acontecido em eleições parciais, e agora nas autárquicas e no referendo, em que cada um disputa o seu próprio espaço.

Esclareça-se que o sistema eleitoral britânico não é idêntico ao nosso ou de outros países europeus, ou seja o método proporcional Hont. Foi sempre um sistema uninominal, e não por bloco partidário, como é o nosso caso. Denominado “Past the Post”, ou seja o candidato com o maior número de votos num determinado circulo, é vitorioso. Embora meio utilizado com grande sucesso nos últimos 90 anos na Austrália e, ironicamente, há muito em eleições sindicais, de organizações de caridade e das igrejas do país, este sistema é combatido pelos partidos minoritários, como é o caso dos Lib Dems, o maior dos desta categoria, que assim não conseguem eleger os seus candidatos, calhando normalmente, a maior fatia para os dois partidos principais – Labour e Conservadores - que geralmente mantêm a alternância do poder. Uma das condições dos Lib Dems aquando da formação da coligação, foi propôr e – obter – a realização de um referendo a fim de se alterar o sistema. Porém, e enquanto preferia o sistema proporcional, ou Hont, como no nosso caso, os Conservadores, obviamente contra qualquer reforma do sistema antigo que lhes dá vantagem, propuseram uma alternativa - o sistema de Voto Alternativo, que os Lib Dems não tiveram alternativa que aceitar. Trata.se de um método em que o candidato, para ser vencedor, tem de obter o mínimo de 50% da totalidade dos votos. Da lista eleitoral do círculo, o eleitor opta pela 1ª, 2ª e 3ª escolha. Na contagem final, o resultado do candidato com o menor número de votos é desclassificado, transitando o resultado para o candidato mais favorecido até que obtenha os desejados 50% para ser o virtual vencedor. Entendido, caro(a) leitor(a)? Complicado? Sem dúvida! Por isso foi recusado pelo eleitorado.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Núpcias Reais

As núpcias, no dia 29 de abril, sexta-feira, do segundo herdeiro do Trono Britânico, príncipe William com a plebeia Catherine Middleton, cujos antepassados maternos foram mineiros em Durham (nordeste da Inglaterra) e paternos empresários e advogados, que se conheceram na este ano, seiscentista Universidade de Saint Andrews, em Edimburgo, Escócia, onde ambos estudaram, obviamente é um acontecimento nacional e mundialmente mediático e que tantos turistas tem estado a atraír a Londres. (Porém, isso não acontece, para grande escândalo, e dura realidade, com milhares de britânicos, que fogem a tão notável cerimónia de pompa. Decretado feriado nacional, segundo as agências de turismo britânicas, com a criação de ponte, milhares de britânicos aproveitam-na para férias no estrangeiro. Tanto a agência de viagens Thomas Cook, uma das principais, como a companhia aérea Ryanair, apontam aumentos de reservas de viagens na proporção de entre 40 e 65% em relação ao ano anterior!) Isso, porém, não acontece, praticamente em todo o país, e, muito mais no aglomerar de gente junto ao percurso, onde colocaram tendas, a população preparou e celebras em ruas e localidades a comemorar o evento. A cerimónia religiosa, que ultrapassa o desejo de ambos em que fosse de caráter mais privado, decorrer entre as 11 às 1215, na milenar abadia de Westminster, sede de coroações e lugar de repouso das mais brilhantes figuras do país, abarrotada com 1900 convidados, dentre eles pelo menos 40 Chefes de Estado, especialmente convidados de Isabel II, resulta num dos mais invejáveis espetáculos televisivos, assistido por 4500 jornalistas, em sua maioria dos canais de televisão mundiais, ultrapassando a cerimónia do fatídico casamento dos pais, realizado em Maio de 1981, com enorme pompa, na não mui distante Catedral de São Paulo. Os felizes contemplados, de que não consta nem o casal Obama, que, para compensar foi convidado para uma visita estatal no próximo mês, como a divorciada tia Duquesa de York, vulgo Fergie – Sarah Ferguson – ou ainda Tony Blair e Gordon Brown, foram notificados pela Soberana, no clássico, mas sempre ambicionado, cartão embutido com o brasão real, com os dizeres ”O Lorde Chamberlain [oficial superior real], instruído pela Raínha, convida.......para o casamento de Sua Alteza Real Príncipe William of Wales K.G., com a Miss Catherine Middleton, na Abadia de Westminster, na Sexta-feira 29 de Abril de 2011, às 11 horas da manhã. Pede-se a resposta dirigida ao Secretário dos Convites de Estado, Escritório do Lorde Chamberlain, Palácio de Buckingham”. Mas enquanto na cerimónia religiosa estarão presentes os quase 2000 convidados, o mesmo não sucederá nem na refeição que se lhe seguirá, presidida pela Raínha, limitada apenas a 600 pessoas, nem no jantar, seguido de baile, assistido apenas por 300 famílias pessoalmente convidadas pelos noivos, ambos no Palácio de Buckingham.

Embora um evento compreensivelmente feliz para o jovem, mui admirado e popular casal, sem dúvida que o local de onde partiu o féretro da amada companheira e mãe, na distante e soalheira manhã outonal de Setembro de 1979, evocará, pelo menos para o noivo, sentimentos profundamente nostálgicos tanto mais que fez questão de que o anel de noivado e ostentamente evidente nas fotos que acompanharam o anúncio do enlace, era precisamente o mesmo da mãe quando noiva! Porém, num país em que os índices de divórcio são altamente elevados, predominando a coabitação, ou “partnerships”, como vulgarmente é preferido, o enlace real representa, na melhor das hipóteses, romance, ou como um ousado bispo chegou a afirmar para escândalo do país, mais um divórcio real, passados alguns meses ou escassos anos! Guilherme e Catherine, pela sua juventude e experiência de vida, herança, preciosa dádiva da mãe do noivo, que quando adolescente, e já divorciada, fez questão de preparar os filhos para a vida real a que a experiência clausural palaciana não lhes dava, são jovens suficientemente experientes e, portanto, bem preparados para as exigências da vida e do mundo modernos. E, daí, o desejado realismo de uma família real que persiste em resistir à modernidade.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O 25 DE ABRIL E A DIPLOMACIA BRITÂNICA

Vivido intensamente a partir da Grã-Bretanha, o 25 de Abril foi por mim diretamente acompanhado Para isso, como ponto alto, decidi ouvir o falecido Lorde Callaghan, ministro dos negócios estrangeiros no segundo governo de Harold Wilson, durante o período. Para este estadista, o governo britânico da época, do qual fazia parte, estava mais preocupado com a situação em Portugal do que propriamente os americanos. Confirmando o que já é do domínio público, que o então secretário de Estado americano, Henry Kissinger "estava convencido da impossibilidade de Portugal escapar -à anexação comunista". Lorde Callaghan revelou que, em resposta, disse a Henry Kissinger que discordava que assim fosse "pois nunca tive dúvidas que isso viesse a acontecer, uma vez que Mário Soares estava à frente dos acontecimentos e determinado a evitá-lo. Foi com base nessa firme convicção e no meu conhecimento de Mário Soares, uma experiência de há muitos anos, que disse a Henry Kissinger, que ele estava determinado a lutar até ao fim. pelo que contaria com todo o nosso apoio. Foi isso que fizemos na altura por vários meios." A rematar, Lorde Callaghan revelou um inédito e interessante episódio. "Lembro-me claramente de que Henry Kissinger, meio duvidoso, à guisa até de gozo, disse-me, a terminar: Bem, se assim pensa, boa sorte!"

Este interessante episódio é reforçado pelo jornalista americano Walter Isaacson, na sua biografia de Kissinger. Apontando o pessimismo constante de Kissinger sobre a ameaça do eurocomunismo e a fraqueza dos aliados da NATO em tolerá-lo, estava "disposto a pensar o pior sobre Portugal". Revelando ainda o episódio entre ele e o então ministro dos negócios estrangeiros, Mário Soares, que foi expressamente a Washington para tentar atenuar o ceticismo do seu influente homólogo em relação à predominância do Partido Comunista no governo e no país, Kissinger surpreendeu o visitante, com base no idealismo socialista da Rússia revolucionária de 1917, com a desafiadora afirmação "Você é um Karensky. Creio na sua sinceridade, mas não passa de um ingénuo"! "Definitivamente não pretendo ser um Karensky", retorquiu Mário Soares, ao que Kissinger arrematou "muito menos o próprio Karensky".. Em Setembro de 2006, o autor solicitou, por escrito, ao Dr. Mário Soares a confirmação tanto deste acontecimento como dos comentários de Lorde Callaghan. Infelizmente o seu pedido não foi correspondido!

Mário Soares, porém, seria constante ponto de referência no abundante e preocupante tráfico diplomático britânico - Lisboa/Londres e Londres/Lisboa - durante a maior parte de 1975. Consultado no Arquivo Nacional Britânico, com sede em Kew Gardens, a sudoeste de Londres, Mário Soares é nele assíduo ponto de referência. Compreende-se! Compreende-se principalmente pelo facto de ser o então combatente e forte defensor da democracia, quando ela se encontrava em grave perigo e, por isso, compreensível e abundantemente mencionado nos referidos despachos britânicos. O melhor exemplo é a carta do então embaixador britânico em Lisboa, N. C. C. Trench, de 18 de Junho de 1975, dirigida ao seu ministério em Londres, sintetizada, como ele afirma “numa completa e irreparável tragédia”. Referindo-se ainda, no momento da redação da missiva, que o Conselho da Revolução se encontrava ainda em sessão, “possivelmente a chocar lamentáveis ovos”, concluíu, afirmando que “o país continua a deslizar para a esquerda”. Neste abundantíssimo tráfico diplomático, é igualmente interessante notarem-se pormenores e opiniões sobre prisões desregradas a várias figuras, em todo o país, o que provocou reparos da diplomacia britânica em Lisboa, em contacto com dirigentes do Conselho da Revolução; encerramento do jornal República, ataques e roubo de munições em Santa Margarida e sobre figuras políticas portuguesas de então. Como exemplo, citam-se casos, especialmente resultantes de encontros, nomeadamente almoços com o embaixador britânico ou seus colegas mais importantes. Enquanto em relação a Salgado Zenha, então Ministro da Justiça, “seja menos vivo (colourful) que Soares e de menor apelo popular, é inteligente e corajoso com temperamento menos volátil que Soares”, quanto ao então dirigente do PPD, Emidio Guerreiro, “embora estando nos meados dos seus 70, deu a impressão de considerável vigor intelectual e político, mas tenho dúvidas que seja o homem adequado, nas circunstâncias atuais, para liderar o partido”, acrescenta ainda, e citando Mário Soares, que sobre ele “nutria fortes suspeitas”. Citando ainda Mário Soares e referindo-se ao PPD, como “partido sem convicções, tanto virado para a direita, como para a esquerda”, dependendo ainda dele, num despacho datado de 30 de Maio de 1975, o embaixador afirma que, num almoço em que Mário Soares era acompanhado pelo seu chefe de gabinete, Sá Machado, o seu convidado dirigente lhe afirmou que “Portugal, estando à beira do desastre, estava pessimista quanto ao futuro da República”.

Quanto à análise de outras personalidades políticas do nosso país o embaixador faz particular referência a Marcelo Rebelo de Sousa, figura convidada em almoço, de quem disse em despacho de 14 de Maio do mesmo ano, considerar possuidor “de brilhante intelecto”. Porém, e com a realização de eleições legislativas, em 25 de Abril de 1975, em despacho datado de 6 do mesmo mês, que tratando-se de “um importante evento, mais importante se torna pelo facto de em apenas dentro de um ano “(da data do início da Revolução). Outro pormenor interessante constante nos dez massiços volumes de correspondência diplomática, como curiosidade, consta ainda um despacho referente ao encontro do então embaixador americano em Lisboa, Frank Carlucci, com o Presidente Costa Gomes, com a nota que a delegação diplomática americana era invulgarmente muito mais numerosa “do que normalmene a nossa”, salienta a insatisfação do Presidente que, por isso, se referiu aos americanos que por “estarem preparados a dispender enormes verbas no Vietname, deveriam, igualmente investir em Portugal.” Em vez disso, continua a citação do presidente, os americanos ”negam o investimento a Portugal, que com o turismo a declinar, que espécie de apoio é esse?”, desabafou!

Extrato de Por Terras de Sua Majestade, de minha autoria, e que aguarda publicação.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O DESPERTAR ÀRABE E O PESADELO AMERICANO

O extraordinário fenómeno do levantamento do Mundo Árabe, até aqui subjugado a ditadores, alguns dos quais vencidos, desde a Tunísia, Egito, Líbia, Bahrein, Iémene e Síria, com abalos sísmicos politicos nos países do Magrebe e na Arábia Saudita, não só formulam novo, e em alguns casos, ainda incerto cenário geo-político, como pôem em questão a política de proteção e vivência quase de meio século, dos Estados Unidos da América (EUA) aos regimes destituídos ou ameaçados da vasta região. Segundo o ministro britânico dos negócios estrangeiros, William Hague, o fenómeno do levantamento do Mundo Árabe, é pior que o da Crise Financeira de 2008 e as suas consequências. Sem dúvida um grande pesadelo principalmente para os estrategistas ocidentais, nomeadamente americanos, que se vêm forçados a reformular toda a sua política no mundo islâmico da África e do Próximo Oriente. E,.na pior das hipóteses, ainda, a possível transferência da importante base naval e aérea do Bahrein! O evoluír da situação democrática no Egito, já iniciada com o referendo para a revisão da Constituição, em 19 do mês passado, em que 14 milhões de eleitores aprovaram com o sim, contra quatro milhões não, registou a maior percentagem de votantes no primeiro escrutíneo verdadeiramente livre dos últimos 60 anos, culminando com as prometidas eleições gerais, possivelmente em Junho e presidenciais em Agosto ou Setembro. Como principal e mais representativo país do mundo árabe, pode ser exemplo, é, porém, grande a incógnita em relação à vizinha Tunísia e, muito mais, aos restantes países quando ultrapassados os obstáculos e removidos os seus ditadores. Uma coisa é clara: Os EUA, enquanto, até agora mentores e determinantes, estão conscientes de que o cenário mudou para meros espetadores. Agir, ou demonstrarem que agem, para benefício próprio, é-lhes obviamente contraproducente! E, daí a hesitação em atuar, de inicio, na Líbia! E, isto, principalmente pelo seu histórico apoio aos regimes totalitários depostos. A tónica mais evidente dos manifestantes não foi a oposição e desafio ao Ocidente, mas o louvável e veemente desejo de serem senhores do seu próprio destino. Esta, a aspiração que se deve respeitar e, se solicitado, o Ocidente contribuír naquilo que possa para que os rebentos democráticos resultem em plantas e frondosas árvores da tão desejada democracia destes povos que durante tantas décadas foram subjugados. Posição idêntica acontece com os manifestantes na Síria, em levantamentos sucessivos, iniciados na cidade de Daraa (a 100km sul da capital, Damasco, e perto da fronteira com a Jordânia), originados pela prisão de um grupo de jovens que foram detidos depois da inscrição nas paredes de insultos ao regime seguidas em Sanamein, a apenas 50km de distância desta e, em Latakia, a noroeste. Se na primeira, segundo grupos de direitos humanos, teriam morrido 55 pessoas, na segunda, o registo foi de, pelo menos, 20 e igual número na terceira, em tiroteio das forças de segurança, o que é negado por fontes governamentais. A estas seguiram-se enormes manifestações em Damasco, principalmente no dia 26 do mês passado, em apoio dos concidadãos das duas cidades, facto inédito, em tempos recentes, para este país. Tudo isto, segundo o Presidente Assad, devido a “infiltradores estrangeiros”, que resiste à reforma, o que mais irrita os manifestantes. Recorde-se, porém, o levantamento em Hama, em 1982, rechaçado pelo regime do pai e em que levou à morte pelo menos 20 mil revoltados. Aspirações justas da desejável Democracia, não no modelo clássico e de todos conhecida. Democracia, possivelmente nova e de enquadramento árabe, segundo as suas ambições, necessidades e fronteiras. Islâmica, certamente será, como são os seus povos! Em relação ao Egito, o objectivo é modelar o seu futuro na prática atual de outro país, igualmente muçulmano, a Turquia, mas secular. Se essa pretensão for concretizada, o Ocidente, os EUA, bem como a UE, muito poderão contribuír, não como neocolonialismo, mas financeiramente no que lhes possa ser solicitado principalmente quando a maioria das suas populações são jovens, desempregadas e economicamente subdesenvolvidas. Talvez, o tal Plano Marshall, a partir da construção de novos países, com base em novas estruturas educacionais, económicas e políticas para o livre Mundo Árabe, como a Alta Comissária dos Assuntos Estrangeiros e Defesa da UE, “Lady” Catherine Ashton, advogou num artigo no New York Times de 18 de Março último, seja a solução. Só assim, desejavelmente, teremos um novo e mais dinâmico Mundo Árabe, um Mundo Democrático senhor de si próprio e soberano em relação ao seu verdadeiro destino.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Melhor de Budapeste, em Londres

Como já tenho apontado, (perdôe-me caro(a) leitor(a)!), além das suas notáveis atrações, Londres continua a ser um dos grandes centros mundiais de cultura e arte. Porém, não se limitando ao invulgarmente inúmero e riquíssimo acervo permanente que possui, em que além das obras de arte tanto em galerias como em celebérrimos museus, abundam espetáculos e shows e exposições num só dia. Potente e irresistível magnete de arte, à capital britânica afluem, igualmente, outras e enormes preciosidades como, já citei e de que me ocupei numa das crónicas anteriores, da exótica arte africana, amplamente demonstrada na igualmente rara exposição intitulada Reino de Ife, no Museu Britânico, no início do ano. Uma delas, e a mais recente, é a dos Tesouros de Budapeste! Nesta memorável exposição, façanha, como igualmente já apontámos, tradição da Royal Academy of Arts, em Piccadilly, o apreciador ou apenas curioso, encontrou um invulgar deleite. Não apenas nas obras raras, pouco e, em alguns casos, nunca vistas fora da Hungria, mas na variedade e extensão desta notável coleção que, em termos visuais constituíu uma verdadeira Rapsódia Húngara!

Coleção de 200 preciosos trabalhos, pinturas, gravuras e esculturas desde os primórdios da Renascença, séculos XIV e XV ao século XX, proveniente tanto, mas principalmente, do Museu de Belas Artes como da Galeria Nacional Húngara, muitas das obras exibidas eram oriundas da Coleção Esterházys, poderosa e rica família dos séculos XVII e XVIII, conhecidos patronos das artes e da arquitetura húngara tão aclamada pelo poeta Goethe e compositor Haydn. Foi esta notável coleção que deu lugar ao Museu das Belas Artes, inaugurado em 1906 pelo Imperador Franz Josef, e, por sua vez, berço artístico do Império Austro-Húngaro. Numa forte demonstração das preciosidades, devido à barreira comunista, até aqui limitadas e contidas às paredes dos belos edifícios, separados pelo Danúbio, a Galeria Nacional Húngara, empoleirada numa colina de Buda e o Museu das Belas Artes a dominar a Praça dos Herois, na frontal Peste, na margem sul. De Buda e Peste, abriram-se, com compreensível orgulho, novas e enormes portas por onde passaram multidões, certamente muito mais daquelas que a tinham visto os famosos locais-sede. E, se esta presença em Londres, poderá ter sido uma clara tentativa de chamar ao mundo artístico a atenção para tão importantes e preciosos acervos a visitar em Budapeste, o objetivo foi claramente atingido! Obras raras, a começar por Leonardo da Vinci, como as famosas cabeças dos Soldados da Batalha de Anghiari (1504-1505); de Rafael (Raffaelo Santi), Madona (1507-1508), bela pintura a óleo e têmpera em painel de álamo, com a Virgem e os meninos Jesus e João Baptista; El Greco (Domenikos Theotokopoulos), Maria Madalena (1580), pintura igualmente a óleo a retratar a antiga pecadora, em penitência, numa panorâmia árida junto ao mar, com uma caveira colocada num livro, possivelmente a Bíblia; Goya (Francisco de G. y Lucientes), representado na obra A Aguaceira, desafiadora face juvenil que muitos interpretam como dimensão política, em que a sua heroína expressa desafio à ocupação napoleónica; raro desenho de Albrecht Durer, Lanceiro a Cavalo (1502); escultura de Andrea Riccio, Violação de Europa (1505-1510), só para mencionar algumas dentre muitas outras das escolas italiana e flamenga . Obviamente a arte do norte e centro da Europa é bem focada nesta notável exposição, montada tematicamente a refletir a riqueza de coleções relacionadas a obras religiosas, assuntos mitológicos, retratos, natureza morta e paisagens. Em relação à primeira, predominava, como não podia deixar de ser, a focagem na arte húngara dominada pelo Altar de Santo André, (1512), bela peça gótica de madeira, notável exemplar de escultura em madeira daquele período. Além disso, e em termos de pintura, constavam trabalhos de Miháli Munkaácsy, com o retrato do compositor Franz Liszt (1886) e de József Rippl-Rónai, ambos pouco conhecidos fora da Hungria, este último igualmente representado com um retrato de Elek Petrovics e Simon Meller (1910).

quarta-feira, 30 de março de 2011

Petróleo, Petróleo - Esboço Histórico

O petróleo e não necessariamente o cada vez mais elevado preço do barril particularmente devido à instabilidade nos países produtores, particularmente como é o caso da Libia – e não só, como veremos adiante! - que, obviamene, se reflete no produto refinado e, finalmente,. nas bombas de gasolina, tem sido uma constante nas recentes parangonas dos órgãos da comunicação social mundial. Infelizmente, não só isso! As notícias que dominaram as manchetes da comunicação social internacional durante Maio/Junho do ano passado e fizeram perigar as relações anglo-americanas, devido ao, e ainda não quantificado desastre ecológico no Golfo do México, com a explosão e afundamento da plataforma petrolífera, Deepwater Horizon, da BP, em que morreram 11 operários, a vomitar - desperdiçar! - 12 a 19 biliões de barris por dia, não pararam! Este, mais outro pesado e incontrolável preço, muitas vezes irreparável nos vários desastres, como, além deste, o do Exxon Valdez, no Alasca, em 1989. Recuemos até, e a partir, dos modestos inícios do chamado "ouro negro". Antes, porém, uma breve referência à que, por enquanto, não passa de especulada existência de petróleo e de gás, quer na nossa plataforma marítima do Algarve e, até, no sobsolo da Abadia de Alcobaça! Se for provado nesta última, que acontecerá a tão vetusto e importante Monumento do Património Mundial?! Esqueçamo-nos, de momento, desse pesadelo e concentremo-nos, antes, nas primeiras prospeções que se devem ao "Coronel" E.LK.Drake, em Titusville, Pennsylvania, EUA, em 1859.

O então chamado "rock oil", o óleo das rochas, para o distinguir do sucedânio animal ou vegetal, longe de ser o mais disputado combustível, era, então, tido como remédio para a cura de todas as maleitas! Porém, dada a escassês de gordura das baleias, que até então era a indispensável obra prima para as candeias de iluminação, a descoberta deste viscoso produto, o petróleo, deu início à corrida, hoje, de todos conhecida. A procura, imediatamente deu lugar à multiplicidade de torres de extração por todos os recantos petrolíferos do que viria a ser um dos mais ricos Estados do país – o Texas. Outra importante descoberta seria em Baku e no seu rico litoral do Mar Cáspio, atual Azerbaijan, em 1871, em que Haji Zeynalabdin Tagiev, iliterado filho de um sapateiro, ficou subitamente multimilionário ao ser descoberto petróleo na sua propriedade! A região de Baku e o seu petróleo era tão importante que o próprio Hitler, na invasão da Rússia, caso não a conquistasse "perderia a guerra"! A sua obcessão era de tal modo que os seus adeptos fizeram-lhe um enorme bolo, com as palavras B A K U, mas, como sabemos, este seu sonho jamais foi realizado! Porém, a indesmedida ganância de tão fácil riqueza, deu lugar à superprodução, provocando a vertiginosa queda do preço. Os barris de madeira do uísque (que também eram utilizados no vinho do porto!), que serviam para o transporte do petróleo, eram mais caros no dobro do produto que continham! E, por falar de barris, aqui surge outra história. Embora os barris tivessem deixado de ser usados para o petróleo, que a partir de 1880 foi transportado em navios-tanques, com a capacidade de até quatro milhões de barris, ou em oleodutos, que começaram a ser lançados em 1870, e depositado em enormes depósitos nas refinarias, o produto continua a ser medido em "barris", ou seja, unidades de 160 litros, com a exceção do Japão que se baseia em quilolitros e, a Rússia, em toneladas métricas. Entretanto, com Henry Ford a lançar, em Detroit, automóveis das suas linhas de montagem, em 1905, que dependeriam de gasolina, o petróleo tornar-se-ia no combustível até hoje indispensável. Não surpreende que a busca pelo precioso líquido, noutros países, tornar-se-ia imperiosa. A iniciativa, ficou a dever-se a empresários-prospetores britânicos como George Reynolds e William D'Arcy, que se viraram para o deserto da então Pérsia. Depois de muitas tentativas e prestes a enfrentar falência, a 26 de Maio de 1908, com o gigantesco esguichar do furo, se tornaram milionários, formando a Anglo-Persian Oil Company, que daria lugar à atual BP. Antes deles, porém, o então jovem de 25 anos de idade, John Rockefeller, fazia nome...e fortuna com a formação da Standard Oil Company que deteria o controlo, em cerca de 90%, do produto refinado, mas que se viria a dissolver em 1911.

Pouco depois, surgiria o autor da famosa "Linha Vermelha"- o nosso muito conhecido Calouste Sarkis Gulbenkian. Quando, com apenas 22 anos, de visita à Transcaucásia, apercebendo-se do enorme potencial do petróleo, 38 anos depois, lançaria o seu famoso traçado. Possuído de enorme fervor pioneiro e lutando contra todas as marés do cepticismo financeiro de então sobre o futuro do que viria a ser "ouro negro", aliado a enormes dotes diplomáticos, a exploração do traçado daria lugar à formação da Trade Petroleum Company, que ajudou a formar. A partir do Mar Negro, a norte, incluindo a então Constantinopla, e hoje Istambul, estendendo-se ao sul até ao Mar Arábico, abraçando a Síria, o Iraque, Arábia Saudita, Oman e Muscat, e limitada a ocidente pelo Mar Negro e, a Leste, desde a Rússia, Curdistão, a então Pérsia, excluindo o Kwaite, e limitada pelo Golfo Pérsico, o interior deste famoso traçado serviria, igualmente, de cobiça aos Estados Unidos no qual, infalivelmente, viriam a participar. Como resultado, e embora com a participação inicial de 15% dos rendimentos, Calouste Gulbenkian limitou-se a receber perpetuamente 5% dos lucros da extração do petróleo proveniente do interior da vasta zona, o que também lhe valeu o famoso cognome do "Senhor Cinco Por Cento". Porém, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), cartel, formado pelos principais países produtores que controla 75% das reservas globais, de que a Federação Russa, que ultrapassou a Arábia Saudita é a principal, e que passaria a controlar tanto a extração como o preço do produto, só seria formado, com a forte oposição dos EUA, em 1960. Com o consumo mundial diário de 85 milhões de barris, o petróleo, em termos de carga, ocupa o terceiro posto do transporte internacional.A maior incógnita, segredo bem guardado dos principais países produtores, é até quando é que o Ouro Negro vai durar! Embora, com a extração diária global de 85 milhões de barris, segundo conceituadas autoridades como o geólogo saudita, Sadad I. Al Husseini, apenas restam 15 anos do precioso líquido. Entretanto, e como precaução, aumentam as reservas de emergência, atualmente situadas em 1,4 biliões de barris. Mas devido ao desastre das centrais nucleares de Fucoxima, no Japão, e das consequências que podem trazer ao setor mundial, na possível redução de novas e programadas instalações energéticas nucleares como é o caso tanto da Alemanha como da China, que decidiram, a primeira cancelar quaisquer planos e, a segunda, declarar uma moratória para novas instalações, situação igualmente reconhecida como séria pelo Presidente Vicent de Rivaz, da principal companhia nuclear de electricidade, a Electricité de France, já detentora de importante fatia de fornecimento e manutenção de estruturas elétricas na Inglaterra, bem como ainda encarregada da construção de quatro centrais nucleares neste país, aliadas ao desenvolvimento industrial tanto da Índia, mas principalmente da já mencionada China, o aumento do consumo de um bem finito, embora condicionado à recessão económica mundial, terá, obviamente, que reflectir-se nos cada vez mais elevados custos energéticos, mas principalmente para o pobre motorista.

quinta-feira, 24 de março de 2011

UM GRANDE PRODUTO NACIONAL

O vinho, esse grande produto nacional e preciosa fonte de receita para a cada vez mais necessitada economia do nosso país, está da parabens. Ou melhor, os seus produtores, que em Londres, recentemente, manifestaram, com justificado orgulho, a sua pujança, na Exposição Anual da Vini Portugal, organização promotora, que, nos últimos anos, tem vindo a desempenhar notável esforço na divulgação e promoção enológica nacional. Para o apreciador ou reputado comentador de vinhos, especialmente num grande e, por isso mesmo, altamente disputado mercado como o britânico, largamente controlado pelas grandes cadeias de supermercados, como Tesco, Waitrose, Sainsbury e Morrisons, em prejuízo para as tradicionais e conceituadas lojas de vinhos como a clássica Odd Bins, que há duas semanas encerrou as suas portas, a qualidade dos vinhos nacionais em nada fica a dever aos mais reputados e principais países produtores, como a França, Itália, ou aos novos e agressivos, como o Chile, Austrália e África do Sul, só para mencionar os principais. Que o digam os prémios que anualmente são atribuídos a conhecidas e melhores marcas, como recentemente ficou provado, a nível nacional, pela Revista de Vinhos, realizada na Alfândega do Porto, ou pela revista britânica, Wine Decanter, no ano passado, em Londres. Esta, a conclusão de reputáveis escritores da especialidade como o britânico Charles Metcalfe, a quem se deve uma excelente recente obra sobre os vinhos e culinária Portugueses, ou ainda, o australiano, Oz Clark, este também autor de várias obras, sobre este importante tema, ou ainda o também britânico, mas luso de nascimento e coração, e amigo de longa data, o ainda jovem, Richard Mayson, qualquer deles reputadas figuras do setor e bons conhecedores do mercado vinhateiro mundial. Segundo dados oficiais, através da delegação do AICEP em Londres, no ano passado, o mercado mundial importador de vinhos portugueses atingiu 604,215,678 milhões de euros, com o volume total de 242,792,629 litros, ou seja um aumento de 4,8% em relação ao período homólogo de 2009. O Reino Unido, um dos seus principais mercados, depois de Angola, França e Alemanha, importou 18.054.207 milhões de litros, no valor total de 65,975,427 milhões de euros, registando o aumento de 0.6% em relação ao ano anterior.

Na exposição anual, realizada no início do mês em Londres, a dificuldade foi a escolha, devido à vasta presença – 133 – de produtores nacionais representando várias e principais regiões do nosso país. Uns já consagrados e bem representados no disputado mercado britânico, outros com a indispensável presença a tentar representação. Por isso, e sem desprimor para muitos outros, limito-me a mencionar aqueles que tive tempo de contatar e provar e, por isso mesmo, mais representativos. Dentre os primeiros, destaco o consagrado e eterno jovem-mestre Luís Pato, Cristiano Vanzeller, da lendária família a quem se deve a memorável Quinta do Noval, por mim visitada e admirada quando ainda se encontrava nas mãos da família fundadora; Alves de Sousa, desta vez não o pai, Domingos, mas o seu fiel discípulo, o filho, Tiago, a sempre presente Aveleda, representada por Manuel Oliveira, o eterno, mas sempre jovem João Evangelista (Portugalia Wines), tanto este, como o verdadeiro “embaixador” dos vinhos portugueses no Reino Unido, Fausto Ferraz (DFJ Vinhos), claro, o já citado Richard Mayson, com a sua nova empresa (Sonho Lusitano). Da nossa região – Dão – e com presença inaugural, foi igualmene um prazer provar os vinhos da Sociedade Agrícola Castro de Pena Alba, S.A, de Penalva do Castelo (FTP Vinhos), representada por Namércio Cunha. A longa prova começou por Luís Pato, mestre enólogo por excelência, a quem a Bairrada muito deve, também bem sucedido e seguido pela filha, Filipa, representada com bancada independente. Esse audaz e velho, mas sempre jovem produtor-inovador, fez questão de me introduzir ao seu novo Pato Rebel tinto, verdadeiro rebelde de vinho, correspondido por sugestivo rótulo! Embora me tenha confiado dedicar-se mais a espumantes, o seu Espumante DUET Baga Touriga Nacional 2010, é digno dos seus esforços! E, ao brindar-nos com reveladora palestra, em que nos confidou alguns dos seus truques de produção, ao saborear o extraordinário Frei João 1990 Reserva, a admiração que por ele tínhamos, mais refrescada ficou! Cristiano Vanzeller, é outro dos muito admirados “embaixadores” dos nossos vinhos. Agora à frente da mui sua Van Zeller & Co, que além dos vários portos se destaca o seu excelente Quinta Vale D. Maria 2008 tinto. A finalizar, é imprescindível salientar o nobre esforço de Richard Mayson que juntamente ao enólogo Rui Reguinga, surpreendeu com o seu magnífico Pedra Basta, tinto regional alentejano. Quanto aos douros da adega Alves de Sousa, o seu magnífico e sempre jovem Quinta da Gavota tinto, seguido pelos dãos da FTP Vinhos, os seus Quinta do Serrado Touriga Nacional 2007 e o Reserva 2007, têm representação garantida no vasto e rico mercado do Reino Unido.

Como habitualmente, este texto é redigido ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

quinta-feira, 17 de março de 2011

CAMARATE

Com a reabertura de mais outra Investigação sobre o fatídico Caso Camarate, a IX, na Assembleia da República, recordo o que sobre ela já há muito escrevi e que, dada a sua relevância e atualização, trago hoje à atenção do(a) leitor(a). A morte do dr. Sá Carneiro e da sua comitiva, resultante de acidente, provocou sérias dúvidas ao autor. Neste capítulo, não estava só. A VI e, mais tarde, em 2004, a VIII Comissão de Inquérito que considerou: a) confirmadas as conclusões da VI Comissão Parlamentar de Inquérito; b) "provada a existência de um incêndio a bordo da aeronave antes do despenhamento"; e considera comprovada "a existência de substâncias explosivas...e a deflagração de um engenho explosivo" (*). Já na altura da publicação das conclusões da VI Comissão, surgiu esclarecedor artigo do Expresso (Opinião 03/07/1999), que começava do seguinte modo: “ANO de eleições é ano de Camarate, diz o cinismo político de quem tem visto comissões parlamentares concluírem o contrário do que esta última concluiu. A verdade, porém, é que, à medida que os anos passam e nos distanciamos dos factos - por isso se afigura mais difícil, em teoria, provar uma determinada versão ou a oposta - mais se reforça a ideia de que o avião de Sá Carneiro sofreu um atentado e não caiu por acidente.” A terminar, concluía, “Os deputados não são investigadores, nem se espera deles que façam o que compete a outras entidades. E aqui cabe perguntar: em que andaram os investigadores - polícias e Ministério Público - entretidos nestes 19 anos?Que atenção deram realmente às suspeitas e indícios conhecidos? O que temos no relatório da VI Comissão é mais um libelo contra a Justiça portuguesa e mais uma prova da sua nulidade..." (+)

Sediado em Londres, o autor estaria, profissionalmente, alheio ao caso. A excepção, ficou a dever-se ao então colega do Jornal de Notícias, e distinto jornalista, mais tarde deputado, dr. Costa Carvalho. Quando, em 1995 se encontrava a investigar o assunto, depois da V Investigação Parlamentar, solicitou a colaboração, no importante ângulo britânico, em relação às investigações técnico-patológicas realizadas por organizações e cientistas britânicos. Foi a entrevista com o Prof. Jack Crane para o JN, e a sua convicção de que houvera sabotagem, devido a vestígios de explosivos, que reforçou a suspeita do autor. Não se trata de uma posição sentimental e emocional, pois bem conheci e lidei com o Dr . Sá Carneiro, mas fundamentada no conhecimento e na inigualável experiência de tão ilustre perito nesta matéria, obtida ao longo de 30 anos da violência da Irlanda do Norte. Disse o Prof. Jack Crane na primeira entrevista publicada no JN de 11 de Outubro de 1995 (Nacional, pág. 8), que com base nas radiografias tiradas ao piloto do fatídico avião "a existência de fragmentos metálicos, que, para mim, são consistentes com fragmentos de uma explosão de bomba". Interrogado sobre a aparente discrepância entre as suas conclusões e as da organização britânica, Forensic Explosives Laboratory (FEL), em que, segundo o relatório desta, por as radiografias tanto do piloto como do co-piloto "terem sido tiradas numa só direcção e, portanto, não revelam a profundidade da penetração dos fragmentos presentes (...) não é possível determinar se estes fragmentos foram forçosamente introduzidos nos pés, tanto por meio de forças explosivas, ou simplesmente resultantes de ferimentos superficiais cutâneos provocados pelo impacto da queda ou ainda devido à remoção dos corpos dos destroços", o Prof. Crane esclareceu que, depois do exame nas partes da fuselagem, foram, efetivamente, encontrados resíduos explosivos.

A notícia, acima referida, acrescenta ainda que "face a esta evidência, insiste o prof. Crane, é suficiente para afirmar que "é consistente com a presença de uma bomba". Considerava, no entanto, este perito, que, por isso mesmo, e para ser-se imparcial, seria necessário analisar a possível existência de matéria semelhante noutros corpos. Porém, perante as conclusões da VIII Comissão Parlamentar e a evidência confirmada acima, o caso continua a aguardar a devida apreciação judicial, mesmo depois da admissão de José Esteves, como foi revelado ao jornalista João Vasco de Almeida da revista FOCUS que o entrevistou, à TSF, em 28 de Novembro de 2006. Segundo João Vasco de Almeida, José Esteves disse que fabricara, mas não colocara, o engenho que teria feito explodir o Chesna em que viajava Sá Carneiro e os seus acompanhantes. Esta inesperada admissão prontificou o então líder do PSD, dr. Luís Marques Mendes, bem como um dos seus antecessores, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, a apelar para a realização do tão ansiado julgamento, considerando ser uma "vergonha" para a democracia que o "Caso Camarate" continuasse por resolver. O inquérito, que atualmente decorre, resultou parcialmente do apelo publico do Prof. Freitas do Amaral, que fez no seu livro "Camarate - Um Caso ainda em Aberto". Esta prestigiosa figura pública portuguesa, segundo o Jornal de Notícias de 2 de Março de 2011 (em Nacional) considerou importante que a Comissão dê seguimento a uma das pistas de investigação que deixou na obra: o que sucedeu ao Fundo de Defesa Militar do Ultramar.
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(*) Diário da Assembleia da República II Série -B- Número 10, Terça-Feira, 28 de Dezembro de 2004
(+) Expresso (Opinião)- (03/07/99)
Nota: Como se trata, em sua maioria, de uma transcrição, a ortografia é fiel à original em que foi redigida. O texto em negrito, foi salientado neste artigo.

quinta-feira, 10 de março de 2011

A FRESCA BRISA DO MUNDO ÁRABE

Para o conceituado historiador britânico Simon Shama, ao referir-se à vaga popular da queda de regimes despóticos do Mundo Árabe, que naturalmente classificou de “período excitante” a Primavera, não Verão ou Outono, é a estação ideal do ano para Revoluções. Aconteceu, disse, em França em 1948 e, embora não o tivesse mencionado, o mesmo sucedeu em Abril de 1974, em Portugal. O que, porém, também não disse foi que as revoluções da Europa do Leste , em 1989, ocorreram no Outono.
Porém, o génesis dos terremotos político-sociais que atualmente assolam o Magrebe e o Próximo Oriente, surgiram no Inverno, quando o jovem de 26 anos, vendedor de fruta, Mohamed Bouazizi, ao ver-lhe destruída sua bancada, para a qual não tinha licença, na cidade de Sidi Bouzid em 17 de Dezembro 17 do ano passado, com o futuro e ganha-pão despedaçados decidiu pôr termo à vida embebendo-se em gasolina e ateando fogo a si próprio. Acto que mal foi ouvido pelo então presidente de 23 anos, Zine el-Abidine Ben Ali, decidiu visitá-lo no hospital, mas sem sucesso, não podendo dirigir-lhe palavra. Esta imolação, que provocaria distúrbios nas ruas, envolvendo milhares de manifestantes num país, quando em 1980 samelhantes protestos não conseguiram depor o então primeiro presidente do ´país, Habib Bourguiba, depois da independência da França, em 1956, foi considerada como o martírio despoleatador contra o desemprego, inflação e elevado custo de vida. Como resultado da chamada Revolução Jasmim, que deu lugar à deposição de Ben Ali, e a sua fuga para a Arábia Saudita, as pedras do dominó da mudança começavam a caír, seguindo-se, quem diria, o vizinho e potente Egito e, com ele, o apelidado de faraó, de 29 anos de poder despótico, Bosni Mubarak? Da faísca dos desconhecidos Sidi Bouzid e Mohamed Bouazizi, as envolventes chamas, consumiram, em escassos dois meses, dois ditadores, ameaçaram e encurralaram o terceiro, no seu reduto de Tripoli, este da Líbia, Muammar Khadafi, fazendo igualmente temer outras regiões como o Bahrein, o Ieméne e agora Oman, com o aviso iminente de se propagar tanto à Jordânia como à Argélia e, possivelmente, dentro de meses, à Arábia Saudita.
“O povo é quem mais ordena!”, cantava, com o seu forte peito e melodiosa voz, o saudoso José Afonso. Mas enquanto ele ditava que a ordem se referia ao seu amado país, estava longe de antever que, igualmente, se aplicaria, quatro décadas depois, aos mais distantes povos árabes! Ali, também, é o povo quem mais ordena! E continua a ordenar, como voltou a ser na Tunísia com a demissão forçada do seu primeiro-ministro interino! Embora se mantenham dúvidas quanto aos resultados, especialmente no Egito, das concentrações e enormes multidões na Praça Tahir – a Praça da Liberdade - um país conhecido pelas suas ditaduras militares e quando essa mesma classe tem enormemente beneficiado dos anos da sua supremacia, desde os meados de 50 liderados por Abdul Nasser, o povo, o seu povo, consciente da liberdade adquirida, e segundo o escritor Ishar Mattar, ou a jovem Gigi Ibrahim, até aqui comandado, qual robot, sem liberdade nem poder de ação, agora entrado na desejada maturidade, encontrou o seu destino e deseja determinar o seu próprio futuro. Se para o primeiro, com compreensível excitamento, “é agora a vez do povo determinar o seu futuro”, para a segunda, o “que pretendemos é reconhecimento do que somos e podemos ser, não um estado islâmico, mas secular como a Turquia”. É este povo que se concentra na formação de partidos e, enquanto isso, constroi hospitais, limpa as ruas e se entreajuda numa solidarieade até aqui desconhecida. Em todo este vasto contexto, equanto Israel segue atento e se preocupa sob a extensão e consequências desta enorme vaga popular, com a passagem de vasos de guerra iranianos pelo Canal do Suez, o que não acontecia desde 1979, é a voz de dirigentes como a ex ministra dos negócios estrangeiros, Tzipi Livni, exclamar que o que está em causa não é a democracia que dá direito a voto, mas os valores democráticos que devem ser atingidos e respeitados.Enquanto isso, o democrático Ocidente, aquele que condenava deficiências democráticas mas que apertava as mãos e abraçava dirigentes totalitários, fechava os olhos à inaceitável submissão dos povos e déspotas, propalava a incapacidade do povo árabe à consecução da democracia, enquanto garantisse a fluidez do petróleo, e cujos vastos e altamente dispendiosos serviços de espionagem como a CIA e MI6, à semelhança da Europa do Leste de 1989, mais uma vez falharam tremendamente. Ou, como afirmava recentemente (27 do mês passado) o Diretor do JN, José Leite Pereira, no seu artigo “Políticos & Petróleo” “Ao alimentar relações com esses países, as democracias estão afinal a condenar os cidadãos que ali são oprimidos a essa opressão prolongada. Em troca de quê? - Normalmente de petróleo.” Acrescentaria – e não só! Exemplo irónico foi o do primeiro-ministro britânico, David Cameron, que enquanto as populações do mundo árabe celebravam a sua bem conquistada emancipação dos ditadores, viajava na periferia com uma forte delegação empresarial especializada na venda de armamento! A partir de agora, muito justificadamente, as atenções concentram-se no Mundo Árabe, não no tão apregoado, especialmente por Kadhafi, Fundamentalismo ou al-Qaeda, mas num mundo árabe democrático, como se deseja, pujante e que possa, finalmente, dar lições a uma Europa e a um Ocidente falidos de ideias e de rejuvanescimento.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O ÊXITO CHAMADO COLIN FIRTH

O aforismo de que “a vida começa aos 40”, agora que os cientistas apontam que a longevidade pode, normalmente, atingir a casa dos 110 anos, é considerada uma fase, não de meia-idade, mas de infância! Este, o caso do ator britânico, Colin Firth, que aos 50 atingiu os pináculos da fama! O principal intérprete do “Discurso do Rei”, que depois de ter sido aclamado na maioria dos principais festivais mundiais de cinema e distinguido no passado dia 13 de Fevereiro, em Londres, com uma cobiçada estatueta no Festival Anual de Cinema e Televisão Britânicos (BAFTA) como o melhor intérprete do filme, que igualmente no mesmo festival foi galardoado com outros cinco prémios, viu a confirmação, no domingo passado, no 83º festival anual por excelência do cinema mundial - a Academia do Cinema, Artes e Ciências em Hollywood, em que “O Discurso do Rei”, igualmente dominou, conquistando mais três estatuetas (melhor diretor, melhor filme e melhor guião). De salientar que enquanto o custo da película, na totalidade, orçou em 9,6 milhões de euros, nas bilheteiras mundiais, até agora, atingiu mais de 240 mihões de euros!

Colin Firth, nascido no condado de Hampshire (sul da Inglaterra), em 1960, mas que passou a maior parte da sua infância na Nigéria, e que até há poucos anos se distinguira particularmente na televisão britânica em atuações de adaptações de romances clássicos, como foi o caso do papel de Mr. Darcy, em Orgulho e Preconceito de Jane Austen (1775-1817), em 1995, realizado e apresentado pela BBC; no cinema, no Diário de Bridget Jones em 2001 e, em seguida, em Mamma Mia, um dos pretendentes da disputada Merryl Streep, obviamente é um artista muito requerido. A sua invulgar atuação no Discurso do Rei, no papel do que seria o relutante gago Jorge VI, por ser a todos os títulos formidável, justifica a aclamação de um ator que igualmente se prepara para outros êxitos como é o caso da adaptação de outra brilhante obra de espionagem de autoria do aclamado romancista, também ele espião, John Le Carré, Tinker, Tailor, Soldier, Spy, a estrear em Setembro. Mas não obstante esta azáfama pessoal nos vários países em que é solicitado, Colin Firth não falta à obrigatória chamada e ao apelo da Itália, onde reside, com a mulher de há 15 anos e 10 mais nova que ele, a realizadora de documentários, Livia Giuggioli, de quem tem dois filhos, Luca e Mateo, bem como outro filho, este de 20 anos, do seu primeiro relacionamento com a artista de cinema Meg Tilly. Aliás, este verdadeiro e atual “gentlemen” britânico contrasta com o que confessa ter sido na sua juventude, o vagabundo de cabelo comprido, de brincos nas orelhas a tentar aprender tocar guitarra e frequentador dos “pubs” do norte de Londres onde era muito popular! Foi nesta fase que ao ser convidado para interpretar o papel do galante Mr. Darcy e ao dar, com compreensível satisfação, a notícia ao irmão, este, atónito, respondeu: “O quê, tu a interpretares um papel desses quando ele é elegante e vistoso!?”

Admitindo não esperar o enorme êxito do Discurso do Rei, uma película de reduzido orçamento, a contrastar com outras astronómicas produções, em que o mérito embora a ele atribuído é igualmente partilhado pela excelente artista, igualmente premiada com uma estatueta BAFTA, Helena Bonham-Carter, no papel da mãe de Isabel II, o público admirador de Colin Firth viu, no passado Domingo, a confirmação do seu êxito em Hollywood com a atribuição de outra estatueta, o sempre cobiçado Oscar! Destaquemos as 12 nomeações do Discurso do Rei, em Hollywood: O melhor filme, o melhor ator, melhor ator e atriz secundários, melhor diretor, melhor guião, melhor cinematografia, melhor montagem, melhor realização, melhor guarda roupa, melhor composição musical e melhor som.